António José Seguro está em campanha eleitoral. Uma campanha eleitoral sem programa, é certo, mas em campanha eleitoral. Diz que se sente preparado para ser Primeiro Ministro em 2015 e vai encontrando grupos entre os quais lhe parece ser mais fácil captar votos, prometendo-lhes rios de mel e grande prosperidade com ele no poder. Complementa esse discurso de promessas fáceis com um discurso pífio de que o Governo tem «paixão pela austeridade» e com descaracterização das políticas apresentadas pelo Governo.
O Governo, por sua vez, diz que daqui a poucos anos teremos não apenas a luz ao fundo do túnel, estaremos já a sair do túnel. Apesar de muito pouco se ter visto ainda em relação a reformas estruturais, principalmente reformas no funcionamento do próprio Estado, vão-nos dizendo que a crise vai durar (curiosamente) até às próximas eleições. Claro que, quando a crise durar para além das eleições, dir-nos-ão que a culpa foi do contexto internacional (e, em parte, terá sido, mas não terá sido o contexto internacional que não terá permitido ao Governo avançar com uma reforma do poder local decente, por exemplo).
No actual estado de coisas, estar em modo de campanha eleitoral permanente, fazendo declarações públicas julgadas pela sua capacidade de garantir votos, é particularmente irresponsável. O debate público saudável é sempre fundamental para o bom funcionamento da democracia, mas numa situação de crise, é particularmente fundamental que não se ande em campanha eleitoral permanente. Infelizmente, no entanto, temos o principal partido da oposição sem programa e temos o Governo a querer que as pessoas pensem que vão ver resultados muito positivos a muito breve trecho.
Claro que, pelo menos, o Governo tem um programa, o que tem como vantagem que se pode discordar ou concordar com as opções que toma e com o enquadramento que faz. O PS, no entanto, não tem programa nenhum. O programa das eleições, que os deputados actuais foram eleitos para defender, foi esquecido no dia em que o PS perdeu as eleições. Pelo que o PS vai ao sabor do vento, mandando o barro à parede a ver se cola nos assuntos que tomem maior projecção mediática numa dada semana.
Já aqui o disse, mas torno a repetir. Não é função da Oposição ir a reboque da agenda mediática ou do Governo, ou da comunicação social, dizendo mal daquilo que o Governo faz. É função da Oposição ter um programa próprio alternativo e tentar implementá-lo, apresentando propostas concretas e coerentes para a resolução dos problemas do país. Isto inclui, por exemplo, apresentar pelo menos as linhas gerais de Orçamentos do Estado alternativos, em vez de propor meia dúzia de alterações ao Orçamento proposto pelo Governo.
Um estado de campanha eleitoral permanente em que o PS não tem programa apenas serve para fomentar os desestabilizadores automáticos de que o Luís aqui falou. O PS poderá, no curto prazo, ganhar fôlego eleitoral (mesmo isso parece ser dúbio, dada que o vazio é de tal forma aparente). Mas, no médio e no longo prazo, nenhum problema é resolvido com retórica. E se o PS alguma vez chegar ao Governo com António José Seguro como Primeiro Ministro, a retórica apenas servirá para os, e por arrasto nos, afundar.
"O programa das eleições, que os deputados actuais foram eleitos para defender, foi esquecido no dia em que o PS perdeu as eleições."
ResponderEliminarHã? Qual?
O Programa Eleitoral do PS é de uma folha com três frases de uma simplicidade franciscana:
ResponderEliminar1.ª Quem é José Sócrates?
2.ª Nós não assinámos nada.
3.ª A Alternativa somos nós.