Cada partido tem o seu discurso mediático, e o discurso mediático de cada partido tenta contar uma história. Essa história vai justificar e legitimar as suas propostas, e vai servir para apelar aos votos e à aceitação das ideias que se procuram transmitir.
A construção de uma narrativa mediática, de saber enquadrar aquilo que se diz devidamente, é algo de perfeitamente legítimo. Tentar torná-la atractiva também é expectável quando se tenta vencer um debate. Os problemas começam quando estas narrativas se transformam em algo de simplista, de caricatural ou assentam em descaracterizações da posição contrária.
Também problemático é quando estas narrativas assentam em dados manipulados ou claramente falsos. Quando se refugiam na dificuldade de interpretação de dados complexos para tentar transmitir uma visão claramente distorcida daquilo que se passa. Quando apresentam apenas os dados que interessam à visão que se pretende transmitir, e não aqueles que não interessam.
É um dever ético importante para a participação no debate público em democracia procurar intervir de forma justa nos debates. Ninguém é perfeito, toda a gente comete erros, mas pelo menos tentar - porque, geralmente, quem tenta, vai conseguir fazê-lo a maior parte das vezes.
É um dever importante da comunicação social numa democracia liberal o de escrutinar as narrativas políticas que são apresentadas de forma crítica e isenta, quaisquer que elas sejam. Isso significa uma preparação e um trabalho de pesquisa bastante exaustivos em relação a dados objectivos, bem como um domínio razoável das posições concorrentes nos vários debates políticos.
Apenas com essa preparação poderão as narrativas mediáticas ser desmontadas e avaliadas criticamente. Da mesma forma que uma boa preparação prévia significa uma maior capacidade de construir uma narrativa de qualidade, que não assenta apenas em estilo, mas também em substância.
Claro que os jogos de política pura e os «casos mediáticos» não vão ser eliminados do dia-à-dia de uma democracia liberal. Mas quanto mais forte seja a preparação dos agentes políticos e da comunicação social, melhor, a meu ver, a qualidade da democracia. Quanto menos vazias forem as narrativas que nos tentam «vender» e quanto mais forte for o escrutínio a que estas se encontram sujeitas, melhor para todos nós.
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