Os media têm um papel fundamental na sanidade de uma democracia, como tem o tipo de exigência que as pessoas colocam nos media.
O Luís Teles Morais acabou aqui de falar de como eles prestam frequentemente um serviço péssimo à informação das pessoas. Queria acrescentar outro exemplo.
Quase todos os dias em que abro sites de jornais vejo títulos bombásticos sobre declarações de políticos. Já aprendi a lição em não acreditar nas mensagens – bombásticas mas irreais – que “jornalistas” tencionam passar para chamar a atenção dos leitores. Quando vejo um desses títulos que me intrigam, tento procurar na net o vídeo ou gravação dessa declaração. Em 90% das vezes, ou o tom da declaração é distorcido porque é retirada do contexto, ou o conteúdo do título é simplemente falso.
O exemplo de hoje fez correr “tinta” de jornais online e bloguers, e saliva de comentadores de televisão e rádio. Algumas passagens:
Título do Público: “Líder do Parlamento Europeu junta-se a Merkel nas críticas a Portugal”
Ainda o Público: “O presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, criticou o facto de Portugal estar a pedir investimentos angolanos, considerando que, assim, “o futuro de Portugal é o declínio””
Paulo Rangel (deputado europeu do PSD): “Vou fazer um pedido formal de esclarecimento” (citação do Público)
Blog Ladrões de Bicicletas: “No seu entendimento, Portugal (e a Europa) só poderá esperar "o declínio", se não "compreender" que só haverá futuro "no quadro da União Europeia"”
Mira Amaral na TVI24: “O que esse senhor disse é um disparate” (citação de memória) [os outros dois comentadores do programa estão totalmente de acordo. José Miguel Júdice avançava mesmo que o comentário devia estar relacionado com jogos políticos lá na Alemanha]
O líder do Parlamento Europeu Martin Shulz, que se exprimia num debate televisivo, não só NÃO criticou Portugal, nem o facto de Passos Coelho ter ido a Angola pedir investimento em Portugal, como NÃO relacionou o declínio de Portugal como causa desse facto. Vejam o vídeo.
Ele limitou-se a apresentar um exemplo do declínio europeu e de como (segundo ele) a Europa se deve unir. De facto, que melhor exemplo do declínio que o caso de um país que era até há pouco tempo colonizador de um outro país sub-desenvolvido, estar agora a precisar de pedir “ajuda” a esse país outrora colonizado! E que melhor argumento para defender o desenvolvimento do projeto Europeu como resposta a este declínio, tal como fez de seguida Martin Schulz?
Após os falsos ecos das declarações do líder do PE, que incluíram declarações indignadas de deputados portugueses de variados partidos (dos com responsabilidades), teve o gabinete daquele que fazer uma declaração a reafirmar o que ele tinha querido dizer:
“o Presidente Schulz estava apenas a usar o facto de o primeiro-ministro Passos Coelho estar a pedir investimento a um país africano (Angola) como um exemplo de que a Europa irá enfraquecer-se a si própria se não actuarmos em conjunto e mostrarmos solidariedade.”
Esta declaração não impediu que à noite os jornalistas e comentadores de várias televisões se entretessem a comentar (e a indignar-se com) o caso.
E assim se fez a estória do dia, e se aumentaram mais um pouco os ressentimentos do povo para com os alemães, hoje ironicamente com um que até estava a defender solidariedade para connosco...
O Mira Amaral, percebo, no seu estilo truculento é compreensivel, agora o Rangel que até está lá deveria abster-se de ganhar protagonismo com isto e ter uma atitude de estadista...
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