Em Portugal, há coisas muito previsíveis. Ouvem-se declarações e sabe-se com quase absoluta certeza o que vai acontecer a seguir.
Temos eternamente as mesmas discussões nos mesmos planos inclinados. Quanto mais triviais, maior o fervor. Quanto menos triviais, maior a trivialização do assunto no debate público de massas.
Sabemos quais as ideias proscritas. Conseguimos adivinhar as distorções e a forma como certas ideias vão ser apresentadas fora do contexto. Temos a certeza que os comentadores de sempre vão dizer o mesmo de sempre.
No meio de toda esta previsibilidade, os debates fundamentais não existem ou reduzem-se a meios selectos. A política é transformada num folhetim cor de rosa na qual todos os políticos profissionais são bandidos, cujas vítimas são os outros cidadãos.
Entre entrevistas não preparadas a debates igualmente não preparados vamos encontrando pouca gente disposta a discutir ideias e não trocar insultos. Gente disposta a sacrificar a previsibilidade estéril do vazio pela efeverscência vigorosa do choque de ideias.
A previsibilidade ultrapassada do nosso debate público é parte de um ciclo vicioso de estagnação e declínio. Não sendo possível a perfeição, é perfeitamente possível melhorar. E um começo seria que um fortalecimento do jornalismo isento e de qualidade.
É previsível que não aconteça. É até provável. Mas se acontecesse o imprevisto, todos nós só teríamos a ganhar com isso.
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