Uma das características que mais me causa confusão (vá, é
mais do que confusão, é mesmo irritação) no BE e no PCP (sobretudo nestes, se
bem que todos os partidos o fazem em algum grau, quando lhes dá jeito) é a
forma como simplificam de tal forma o conteúdo de todas as mensagens que passam
de forma a que tudo se torne preto e branco.
Os bons contra os maus, os trabalhadores contra o patronato,
o pequenino contra o grande, o pobre contra o rico.
Tudo muito simples.
O que acontece é que o mundo não é simples, nem a preto e
branco (como os anglo-saxónicos diriam, será em "shades of grey") e
geralmente não funciona em dicotomias.
(Outra coisa que irrita no raciocínio da esquerda é que tão
fixados que estão nestas dicotomias, que se esquecem que o pobre poderá ser um
dia rico, o pequeno grande e o trabalhador patrão, escolhendo assim perpetuar um
ciclo de impotência, mas adiante...)
Na verdade, a maior parte dos eventos como A Promoção,
dão-se através da conjugação de um conjunto de factores sobre os quais, que na
maior parte das vezes, nada sabemos.
Mais uma vez, o BE e o PCP (e sindicatos, entre outros mais
ou menos ideologicamente próximos), alheios ao que terá acontecido na realidade
(o que para eles é perfeitamente irrelevante), vieram dizer que a Jerónimo
Martins ("JM") teria feito A Promoção no dia do trabalhador de forma
a fazer gorar mais uma jornada de luta.
Não sei quais foram as intenções da Jerónimo Martins, mas
duvido que apenas tenham sido as de causar um dia menos bom à esquerda.
É que as empresas estão-se bastante nas tintas para o que os
políticos dizem, desde que as deixem fazer o negócio delas. E o negócio delas
não é humilhar a esquerda. É ganhar dinheiro.
Por outro lado,
este partidos optaram por criticar quem fez A Promoção (escreverei outro
post sobre a minha opinião sobre a JM noutro post) e não a quem ela aderiu.
É que pode custar à esquerda, mas não bastou ao Pingo Doce
anunciar a promoção e abrir as portas: as pessoas (e muitas) tiveram de se
deslocar lá.
Por isso, em vez do BE e do PC (e quejandas estruturas
sindicais mais ou nenos próximas) se queixarem e apelarem ao governo para
multar a JM, deviam olhar para dentro de si e questionarem-se em como podem
contribuir para tornar as pessoas mais críticas e as ajudarem a ver além das
mensagens simples e do preto e branco (que tanto jeito lhes tem dado) e das
quais A Promoção é perfeito exemplo.
É que se tivessem mais gente a acreditar verdadeiramente (de
forma esclarecida e educada) nos ideiais que defendem (por oposição a pessoas
que num dia cerram o punho e cantam palavras de ordem e no 1º de Maio estão n´A
Promoção, sem achar que existe uma certa dose de incoerência), teriam
certamente mais gente a aderir às comemorações do feriado.
Agora, se por falta de arte ou concordância com a ideologia
as pessoas não aparecem, não venham culpar os outros.
(esta é a minha visão talvez demasiado crédula do assunto. De
forma humorística poder-se-ia argumentar que se A Promoção tivesse sido no dia
25 de Abril de 1974 ainda estávamos no Ultramar, mas prefiro pensar que não).
Esta geste analisa tudo pela rama.
ResponderEliminarQue tal a realidade desta ser, como foi uma resposta da JM à Sonae?
Neste momento a Sonae tem um vigor uma "promoção" de 75% em cartão Continento repartido por vários meses.Promoção enorme da Sonae que tem uma tesouraria fraca.
A JM fez esta promoção,muito para mostrar aos concorrentes que tem fundo de maneio em caixa para estas brincadeiras,de respeito.
Não vi ninguém falar sobre isto.
Com a devida vénia ao tecnólogo RC:), portador do cartão continente.
De facto parece que muita gente vê na promoção do Pingo Doce uma tomada de posição política, quando na realidade me parece que se trata essencialmente de um assunto de estratégia da empresa.
EliminarIrei aliás escrever um post sobre este tema. Obrigado pelo seu comentário.
Cumprimentos,
DHS
"O Pingo Doce deve ter arrecadado à volta de 90 milhões de euros, em poucas horas, em capitalização de produtos armazenados.
ResponderEliminarDe onde saiu o dinheiro?
Algum, do bolso dos cidadãos mas, grande parte, das contas bancárias por intermédio de cartões de débito, vulgo “cartões multibanco”. Logo, os bancos vão acusar a saída de tanto dinheiro em tão pouco espaço de tempo e no princípio do mês, altura em que os bancos contam com esse dinheiro nas contas, para se organizarem e investir com ele. Mas ainda ganham, porque alguns dos muitos milhares dos cidadãos compraram a crédito.
Ora, se o Pingo Doce pedisse esse dinheiro à Banca iria pagar, digamos, a 5% em 5 anos, 25% da quantia. Assim não paga nada. O povo deu-lhe boa parte do seu ordenado a troco de géneros. Alguns vão ver-se à rasca porque com o arroz extra para 2 meses e o papel higiénico extra para 2 ou 3, não se paga a electricidade.
O resto, 75% da quantia aparentemente "oferecida", distribuiu-se assim:
1. Uma parte dos produtos (talvez 20 a 25%) deve estar a chegar ao fim do prazo de validade. Teria de ser amortizada como perdas e lançada ao lixo. Enquanto não fosse lixo, seria material que entraria como existência, logo considerado como ganho e sujeito a impostos. Assim poupam-se impostos, despesas de armazenamento (logística, energia, pessoal) e o povinho acartou o lixo futuro.
2. Outra parte (10 -15%) seria vendida com os habituais descontos de ocasião e as promoções diárias. Uma parte foi ainda vendida com lucro, apesar do "desconto".
O Pingo Doce prescinde ainda de 30 a 40 % do que seria lucro, por motivos de estratégia empresarial a saber:
a)Descartar-se da concorrência das pequenas empresas. Quem comprou para dois meses, não vai às compras durante esse período.
b)Aumentar a clientela que agora simpatiza com a cadeia "benfeitora".
c)Criar uma situação de monopólio ao fazer pressão sobre os preços dos produtores (que estão à rasca e muitos são espanhóis) para repor os novos stocks em grande quantidade.
d)Transpor já para Euros parte do capital parado em armazém e levá-lo do país, uma vez que a Sede da Empresa não está em Portugal - Não vá o diabo tecê-las e isto voltar ao Escudo nos próximos tempos - levou já a Jerónimo Martins a passar a empresa para a Holanda.
e)Diminuir com isto o investimento em Portugal, encurtar a oferta de produtos, desfazer-se de algum armazém central e com isso despedir alguns funcionários. O consumo vai diminuir no futuro e o Estado quer "imposto de higiene" pago ao metro quadrado.
f)Poupança em todo o sistema administrativo e publicidade. A comunicação social trabalhou gratuitamente para eles.
Mesmo que tudo fosse considerado ilegal, a multa máxima para Dumping é de 15 a 30.000 Euros, para o resto não há medidas jurídicas. Verdadeiramente isto são "Peanuts" em sacos de Pingo Doce, empresa do homem mais rico de Portugal.
A ASAE irá apenas apresentar serviço. E o governo o que faz? Até agora calou-se." - Celestino Silva
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Aliado a isto, acrescento que é muitíssimo suspeita a escolha da data 1º de Maio para a promoção. Parece-me óbvio que a JM tencionava enfraquecer ainda mais a força de quem defende os direitos dos trabalhadores. Como sabem na Polónia, a JM foi processada por os violarem. E perderam.
Antes de mais, agradeço-lhe o seu interessante comentário.
EliminarConcordo com alguns pontos que refere. Designadamente com o exposto nas alíneas a, b, c e f do ponto 2.
Se se tratasse de uma qualquer empresa média, nada do que refere nas alíneas que citei me parece mal, por ser o normal comportamento entre empresas em concorrência.
O que me perece é que a JM (e designadamente o Pingo Doce), se move num mercado em oligopólio (JM e Sonae) e é a essa luz que toda a Promoção de ve ser vista e os abusos castigados.
Irei aliás escrever um post sobre este tema (quando escrevi o Notas Soltas 1 esbocei outros 2 que abordam algumas das questões que pertinentemente refere. Tentarei publicar um deles ainda hoje).
Quanto à alínea d) do número 2. Se a promoção tentou diminuir os stocks de produtos não vejo que mal tenha esse comportamento e tanto quanto sei, a JM continuará a pagar os seus impostos em Portugal.
Não penso aliás que A Promoção tenha sido feita com esse intuito, mas mesmo que assim fosse, a meu ver, a JM fará o que entender com o seu capital, bem como os seus accionistas.
Como aliás vi referido na altura em que este assunto foi discutido (penso que foi Marques Mendes, se a memória não me falha) tal comportamento é perfeitamente lícito à luz da liberdade de capitais.
Quanto muito diminui a legitimidade do Eng. Soares dos Santos para fazer algumas declarações políticas, mas isso são contas de outro rosário.
Sobre o dumping, dou-lhe toda a razão, aliás tal foi já comprovado pela ASAE. Confesso que não conheço a moldura contra-ordenacional aplicável e, por isso, não me pronunciarei sobre esse assunto.
Por outro lado, como referi no post, não me parece que o objectivo (mesmo que secundário) tenha sido atacar as comemorações do 1º de Maio, mas sem mais informação não me posso pronunciar .
Em relação ao governo não estar a agir, não posso de deixar de frisar que Assunção Cristas fez declarações que considero serem importantes para os fornecedores da JM e outras grandes superfícies.
Penso aliás, que são eles que estão a pagar (e caro) não apenas a Promoção, mas a enorme guerra comercial que se vive entre a JM e a Sonae (com as correspondentes falências e postos de trabalho destruídos).
Vide notícia aqui.
http://expresso.sapo.pt/assuncao-cristas-admite-necessidade-de-legislar-contratos-com-produtores=f723785
Cumprimentos,
DHS
* por os violar.
ResponderEliminarEu apoio desde já a abertura e promoção no dia de Natal.Assim como assim...
ResponderEliminarO que lhe parece?Gostava de uma resposta do Sr Duarte de Sousa .Ok?Ou será que aí, nesse caso, já o "irritava" um pouco?
Não me irritava rigorosamente nada. Penso aliás que todos os estabelecimentos comerciais deviam poder estar abertos (ou fechados)quando entenderem e fazer as promoções que achem proveitosas ao seu negócio.
EliminarSe eu tiver uma loja e clientes que me querem comprar bens, porque é que não posso vender?
Penso que existem, nestes casos, dois interesses a tutelar:
1) O dos trabalhadores (através de compensação monetária ou dias de folga. No caso da Promoção a JM deu um dia de folga e pagou a triplicar, nos termos do apresentado no blog cujo link segue infra)
http://asminhashistorias-rsm.blogspot.pt/2012/05/ainda-o-pingo-doce.html
2) Os fornecedores. As promoções não devem ser feitas passando os custos por decisão unilateral do distribuidor para o fornecedor.
Isto é particularmente grave no caso da JM e da Sonae, pois o fornecedor não tem outro remédio senão fazer o que lhe obrigam.
Desde miúdo sempre me fez muita confusão porque é que o comércio tradicional fechava quando as pessoas tinham tempo para fazer compras(fim-de-semanas e feriados).
Não acho, por tudo isto, que se deva penalizar quem decide trabalhar em prole de pessoas que querem proibir os outros de trabalharem, protegendo os seus interesses.
Nestes termos, para mim, o Natal não seria excepção (duvido, no entanto que valesse a pena abrir, visto que os consumidores costumam passar o dia de natal em família).
Numa nota pessoal termino referindo que, como é evidente, não gosto de trabalhar aos feriados e fins de semana, mas já tive de trabalhar em bastantes.
Penso que quando é necessário, tenho que o fazer.
Obrigado pelo seu comentário.
Cumprimentos,
DHS