terça-feira, 22 de maio de 2012

Start-up – o verdadeiro ideal






Uma das questões que raramente são tratadas nos cursos ou nos acelaradores ligados ao empreendedorismo tem a ver com a sustentação ideológica da actividade empreendedora - bem sei que os empreendedores são pessoas demasiados práticas e ocupadas para se preocuparem com questões filosóficas mas os ideais são importantes ou deveriam ser mesmo para pessoas tão aterafadas como os empreendedores.

As melhores empresas, as que conseguem ter mais impacto na sociedade, são aquelas que nascem de premissas ideológicas capazes de mudar determinados sectores. Isto acontece porque os empreendedores olham para determinado problema social e perguntam-se, invariavelmente, a mesma pergunta: “porque é que isto não tem uma solução melhor?” - Steve Jobs da Apple queria acima de tudo fazer uma revolução informática e que democratizasse o acesso informático ao cidadão comum, Larry Page da Google queria organização da informação na internet. No entanto, subsiste o mito de que o empreendedor é apenas um aproveitador de oportunidades de negócio, quando na realidade o verdadeiro empreendedor se distingue do oportunista por não se limitar a explorar novas oportunidades de "ganhar dinheiro" mas antes de provocar a mudança por ver a necessidade de criar um mundo melhor, e há uma distinção subtil entre as duas coisas.

O empreendedorismo é por isso, a verdadeira força do capitalismo - que é o sistema que depois do colapso da União Soviética acabou por se extender à generalidade da população mundial – note-se que no antigo bloco de leste a maior parte dos projectos “empresariais” era encabeçado por "gestores profissionais" designados pelo governo central, retirando um factor determinante à maior parte dos projetos: a paixão, ou se quisermos a vontade de mudar o mundo!  - talvez por isso os poucos projectos que permitiram a criação de ambientes apaixonados, como o programa espacial soviético, tiveram um sucesso relativo tão flagrante.

As grandes organizações são aquelas onde os seus colaboradores estão amplamente motivados, os que trabalham com paixão para fazer acontecer – as pessoas trabalham melhor quando sentem que fazem parte de uma equipa, se quisermos, este fenómeno talvez remonte a uma disposição antropologica da forma como os nossos antepassados se organizavam em pequenas comunidades de caçadores recolectores.

Por isso quando sonharem na vossa startup, pensem em quais as áreas da nossa economia que estão completamente erradas, ou obsoletas e desfasadas da realidade onde o web, mobile ou cloud ainda não conseguiram mudar totalmente – bancos, operadoras de telecomunicações, saúde, estado – foi isso que fez a startup Modelo3.pt que foi participante no programa de aceleração Beta-start pertencente à Beta-i (da qual sou membro da direcção) ao criar um novo intermediário, inteligente, entre o utilizador final, o contribuinte pagador de IRS, e o estado Português, e ao dar-lhe um interface infinitamente mais simples e intuitivo de usar do que o disponibilizado pelas finanças portuguesas, permitindo desta forma ganhos de eficiência de preenchimento e quiçá mais importante um acréscimo nos valores de rembolso – pelo menos na maior parte dos casos –visto que a generalidade dos contribuintes não utiliza todos as deduções a que tem direito!

Portanto da proxima vez que ficarem irritados com um serviço e se perguntarem “Porque eu não posso fazer isto pela net?” ou “Porquê é que este serviço funciona tão mal na net?” - se não encontrarem uma resposta satisfatória, é porque deve estar aí uma boa ideia potencial para uma start-up mudar o mundo para melhor.

André Marquet, é um dos fundadores da Beta-i, www.beta-i.pt

1 comentário: