Uma das questões que raramente são tratadas nos cursos ou nos acelaradores ligados ao empreendedorismo tem a ver com a sustentação ideológica da actividade empreendedora - bem sei que os empreendedores são pessoas demasiados práticas e ocupadas para se preocuparem com questões filosóficas mas os ideais são importantes ou deveriam ser mesmo para pessoas tão aterafadas como os empreendedores.
As melhores empresas, as
que conseguem ter mais impacto na sociedade, são aquelas que nascem de premissas
ideológicas capazes de mudar determinados sectores. Isto acontece porque os empreendedores
olham para determinado problema social e perguntam-se, invariavelmente, a mesma
pergunta: “porque é que isto não tem uma solução melhor?” - Steve Jobs da Apple
queria acima de tudo fazer uma revolução informática e que democratizasse o
acesso informático ao cidadão comum, Larry Page da Google queria organização da
informação na internet. No entanto, subsiste o mito de que o empreendedor é
apenas um aproveitador de oportunidades de negócio, quando na realidade o
verdadeiro empreendedor se distingue do oportunista por não se limitar a
explorar novas oportunidades de "ganhar dinheiro" mas antes de provocar
a mudança por ver a necessidade de criar um mundo melhor, e há uma distinção
subtil entre as duas coisas.
O empreendedorismo é por
isso, a verdadeira força do capitalismo - que é o sistema que depois do colapso
da União Soviética acabou por se extender à generalidade da população mundial –
note-se que no antigo bloco de leste a maior parte dos projectos “empresariais”
era encabeçado por "gestores profissionais" designados pelo governo
central, retirando um factor determinante à maior parte dos projetos: a paixão,
ou se quisermos a vontade de mudar o mundo!
- talvez por isso os poucos projectos que permitiram a criação de
ambientes apaixonados, como o programa espacial soviético, tiveram um sucesso relativo tão
flagrante.
As grandes organizações
são aquelas onde os seus colaboradores estão amplamente motivados, os que
trabalham com paixão para fazer acontecer – as pessoas trabalham melhor quando
sentem que fazem parte de uma equipa, se quisermos, este fenómeno talvez
remonte a uma disposição antropologica da forma como os nossos antepassados se
organizavam em pequenas comunidades de caçadores recolectores.
Por isso quando sonharem
na vossa startup, pensem em quais as áreas da nossa economia que estão
completamente erradas, ou obsoletas e desfasadas da realidade onde o web,
mobile ou cloud ainda não conseguiram mudar totalmente – bancos, operadoras de
telecomunicações, saúde, estado – foi isso que fez a startup Modelo3.pt que foi
participante no programa de aceleração Beta-start pertencente à Beta-i (da qual
sou membro da direcção) ao criar um novo intermediário, inteligente, entre o
utilizador final, o contribuinte pagador de IRS, e o estado Português, e ao
dar-lhe um interface infinitamente mais simples e intuitivo de usar do que o
disponibilizado pelas finanças portuguesas, permitindo desta forma ganhos de
eficiência de preenchimento e quiçá mais importante um acréscimo nos valores de
rembolso – pelo menos na maior parte dos casos –visto que a generalidade dos
contribuintes não utiliza todos as deduções a que tem direito!
Portanto da proxima vez
que ficarem irritados com um serviço e se perguntarem “Porque eu não posso
fazer isto pela net?” ou “Porquê é que este serviço funciona tão mal na net?” -
se não encontrarem uma resposta satisfatória, é porque deve estar aí uma boa
ideia potencial para uma start-up mudar o mundo para melhor.
André Marquet, é um dos fundadores da Beta-i, www.beta-i.pt
Vou ver o vosso sítio. É um começo.
ResponderEliminar