segunda-feira, 28 de maio de 2012

A banalização dos totalitarismos

À Esquerda e à Direita, há quem pense que usa um argumento por chamar «totalitário» à parte contrária. Depois, há aqueles que gostam de chamar «totalitárias» a todas as ideologias. Pelo meio, temos o pessoal que acaba acusado de ser «totalitário», por vezes pelos dois extremos, e tenta ter um debate.

De vez em quando, a esta banalização do totalitarismo são acrescentadas variadas teorias da conspiração (há uma para todos os gostos), geralmente variações da existência de poderes ocultos e desígnios insondáveis que pretendem destruir o mundo para seu proveito próprio. E o suposto «totalitário» ou é um agente da conspiração ou é um ingénuo que é instrumentalizado por esta.

Há gente que parece de facto viver num mundo em que em cada esquina há um Estaline a defender «políticas de esquerda» ou um Hitler a defender «políticas de direita», sem meio termo. O sangue derramado por estes dois tiranos em nome das suas loucuras é trivializado por gente que pensa que chacinar milhões de pessoas é mais ou menos equivalente a aumentar impostos ou diminuir o nível de regulação em certos sectores.

Uma versão actual deste tipo de banalização dos autoritarismos, das ditaduras e dos totalitarismos é a tentativa de comparação das revoltas contra ditaduras da «Primavera Árabe» com os grupos dos Indignados e do «Occupy Wall Street». Por muito que a política teime em cometer erros cá e também, muito provavelmente, nos EUA, bem como noutros países, há uma diferença de grau relevante quando comparado com a chacina na Síria, a guerra líbia ou as rajadas de metralhadora no Egipto.

Um passatempo favorito de quem gosta de banalizar os totalitarismos com o seu discurso tende a ser a procura de retirar legitimidade à nossa democracia parlamentar. Depois, varia: ou temos velhas noções anarquistas ou de democracia directa apresentadas como grandes novidades, ou temos apelos a «verdadeira democracia» que mais não são do que disfarçados apelos a um regime autoritário. Ou então, muitas vezes, temos uma confusão que não se entende, desestruturada e anti-ideológica, assente em «slogans» que pouco vão para além de chavões triviais.

Não podemos cair na banalização dos totalitarismos. É preciso confrontar os problemas de governação política a nível local, estadual, continental e global com base em muito mais do que teorias da conspiração e pensamento desestruturado. É fundamental procurarmos ir ao cerne dos problemas, em vez de nos ficarmos pela acrítica regurgitação de teses fundamentadas em rumores, na criação de padrões fantasistas ou pura simplesmente em falsificações.

Precisamos de ter alicerces claros para as nossas posições, de assumir esses alicerces e de confrontar as nossas propostas uma com as outras. Correremos o risco de nos acusarem de sermos «fascistas», «estatistas» e todo o tipo de conversa fiada, mas o risco vale a pena. Porque só assim conseguimos marcar posição e combater a banalização dos totalitarismos.

3 comentários:

  1. Bom as revoltas contra os autoritarismos árabes são revoltas da fome e da baixa do poder de compra no caso líbio, as revoltas de Wall Street ou as pilhagens de Londres têm os mesmos motivos.

    Que uns se deixassem matar em nome de um estado mais justo e islâmico e outros fossem presos por mando de oligarquias económicas em estados com direito a voto, faz de facto muita diferença.

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  2. A diferença fundamental é que as oligarquias económicas em regimes semi-abertos a dualismos partidários ou multiparties, já não dispersam os man infestantes à bala como faziam nos anos 20 e 30 e 40 e ....

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  3. Espero esteja cada vez mais farto deste regime em que vivemos, essa "diferença fundamental" é hipersimplista.
    Em segundo lugar, o problema é que as alternativas a regimes semi-abertos são medonhas. Caos ou totalitarismos.

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