"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
domingo, 27 de maio de 2012
Verdes Anos, de Luís Humberto Teixeira
O Luís Humberto Teixeira é um tipo porreiro, animado e inteligente. A sua sagacidade é notória e transparece na sua escrita, que flui a bom ritmo, tornando difícil largar o seu livro Verdes Anos - História do Ecologismo em Portugal (1947-2011).
Descobri que o livro existia pelo Facebook, quando o Luís Humberto me convidou para a sua apresentação ao público. Apesar de não ter conseguido ir, pedi descaradamente uma cópia ao próprio autor, que teve a gentileza de me arranjar uma cópia não apenas deste livro, mas também do seu Reciclemos o sistema eleitoral! (2003).
Tenho muitos livros que quero ler, mas fiz deste uma prioridade. O tema interessava-me e o livro não desapontou. Aliás, vai para além do que o título deixa transparecer. Dada a preocupação do Luís Humberto de enquadrar devidamente os temas que discute, com a confiança apenas possível a quem os domina, este livro fornece não apenas uma visão da História das ideologias verdes em Portugal, mas também uma base teórica para pensar sobre sistemas políticos e sociais e a forma como se influenciam.
O livro está bem organizado, pressuposto importante para uma fácil e boa compreensão do que é discutido. Primeiro, o Luís Humberto apresenta-nos uma sumária descrição das ideologias verdes, explicando as diferenças entre o ecologismo e o ambientalismo. Depois, viajamos pela Europa e pelas bem diferentes experiências verdes pelo continente. Apenas então, já com uma boa bagagem sobre as ideologias e o que se passa a nível europeu, passamos para Portugal.
Já em Portugal, o Luís Humberto fala-nos da Liga para a Protecção da Natureza e das suas actividades durante e após o Estado Novo. Fala-nos, com a maior das desenvolturas, entre outras coisas, sobre o período pós-revolucionário e dos anos 80, sobre as várias organizações não governamentais que foram surgindo, sobre o início d'«Os Verdes» e sobre a CDU, sobre o MPT e até, brevemente, sobre o PAN. Com base em entrevistas e em estudo de documentação vária, conta-nos várias perspectivas sobre o que se foi passando - e depois vai mais além.
No seu livro, o Luís Humberto não se preocupa apenas em enumerar factos que lhe foram sendo contados pelos vários intervenientes directos que entrevistou. Preocupa-se ainda em explicar o que aconteceu de um ponto de vista teórico, de enquadrar aquilo que aconteceu em Portugal nas teorias que se foram desenvolvendo com base em outras experiências. E é desta parte que eu penso ser possível retirar princípios abstractos que ajudam a pensar a forma como ideologias e formas de pensar e de agir se disseminam e procuram alargar a sua área de influência.
Diz o autor que o seu estudo surgiu devido a uma lacuna que encontrou - não havia estudos aprofundados sobre este tema em Portugal, e as referências a nível internacional eram essencialmente inexistentes. Foi para suprir esta falha que o estudo foi efectuado e, depois, que surgiu este livro. Da perspectiva de alguém de fora da área, considerei este livro uma mais-valia. Aprendi com ele não apenas um conjunto de factos sobre o ecologismo em Portugal, mas também uma proposta de enquadramento destes factos - com a qual, aliás, me identifiquei, e considerei persuasiva.
Este livro é, assim, um produto completo, o qual se lê e com o qual se aprende sem se notar. Não me sinto capaz de avaliar se supriu a lacuna que o Luís Humberto queria suprir - outros opinarão sobre isso. Mas pessoalmente, ajudou-me a assentar ideias sobre um conjunto alargado de temas, com o bónus de ter aprendido sobre ecologismo e a sua História em Portugal e noutros países europeus pelo meio. Portanto, para mim, foi uma boa leitura. E penso que será uma boa leitura para outros que tenham interesse sobre estes temas.
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Já dizia o Pessoa. Tivesse eu vida para esta Biblioteca.
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