sexta-feira, 25 de maio de 2012

Linguagem panfletária

Há diversos estilos e registos e formas de falar, uns mais formais e outros mais informais. Uma forma de falar é a utilização constante de linguagem panfletária. A linguagem panfletária (vem de «panfleto», naturalmente) consiste na utilização constante de «slogans», na simplificação extrema das ideias que se quer transmitir, e na citação constante de supostas autoridades neste ou naquela matéria e na linguagem carregada (ou seja, o menos neutra possível).

Discutir contra alguém que use linguagem deste tipo é o mesmo que discutir com um panfleto. Traduz-se num convite a um comício político do mais parcial que se possa imaginar. Cada palavra é medida de forma precisa para ter a carga mais negativa ou mais positiva que possa alguma vez ter, enquanto os «slogans» preferidos são apresentados como se de argumentos se tratassem.

A linguagem panfletária em excesso reduz o debate político ao mínimo denominador comum, descaracteriza ambas as posições em debate e dificulta a capacidade de se ter um debate com «nuances». Torna os debates cansativos, repetitivos e circulares. Ao mesmo tempo, torna mais difícil que se chegue a um compromisso, dado que, mesmo que as posições não estejam assim tão longe umas das outras, a linguagem utilizada afasta-as e extrema a discussão.

Não por acaso, a linguagem panfletária é muitas vezes usada para esconder o quão próximas certas posições são. Para fingir que se faz a diferença, extrema-se a forma de falar. Para marcar posição, em vez de se dizer algo de substantivo, usa-se palavras mais chocantes e «fortes» para dizer as coisas. No fundo, no fundo, não se diz nada de especial. Mas a forma utilizada é suficiente para dar a aparência de substância, devido à reacção das pessoas às palavras utilizadas.

Aturar alguém que, fora do debate público, insiste em falar constantemente utilizando este tipo de linguagem é das experiências mais irritantes e intelectualmente cansativas por que alguém pode passar. Debater com essas pessoas é mais ou menos equivalente a atirar argumentos contra uma parede, embora possa ser útil quer para conhecer as versões mais básicas de certas posições, quer para treinar aturar gente irritante num contexto informal e sem responsabilidades de maior. 

Claro que quando se combina a utilização constante de linguagem panfletária com a necessidade que algumas dessas pessoas têm de dar constantemente a sua opinião sobre tudo, temos uma receita para o desastre (e, possivelmente, alguém se considera parte de uma Vanguarda Esclarecida). Nesses casos, ditam as boas práticas da preservação da sanidade mental que se leve tudo com bom humor, ou pelo menos com relativa indiferença, sempre respeitando as opiniões contrárias.

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