Marcelo Rebelo de Sousa, José Pacheco Pereira, e todos os outros que falam de «especificidades portuguesas» demonstram hoje cabalmente porque é que nós nunca tivemos reformas estruturais.
Parte do nosso problema, parte da razão pela qual não nos desenvolvemos, é a defesa intransigente por parte de alguns dessas coisas qualificadas como «especificidades portuguesas». Ora, não é o Estado que define a cultura de uma certa população, são as pessoas. E eu pergunto, já agora, quais «especificidades portuguesas»?
Aquela «especificidade portuguesa» conhecida por «cunha»?
Aquela «especificidade portuguesa» que é o baixo nível de confiança nos outros?
Aquela «especificidade portuguesa» que se traduz num desprezo pelo cumprimento de contratos?
Aquela «especificidade portuguesa» que é um sistema fiscal complexo em que quem pode foge, e quem não pode paga?
Aquela «especificidade portuguesa» que é um mercado laboral a duas velocidades?
São estas as «especificidades portuguesas» que nós devemos sempre levar em conta de tal forma que nunca reformamos nada?
Será isto que queremos manter?
Ou será que nós temos é pouca gente com coragem política para fazer reformas? Claro que esta não é uma «especificidade portuguesa»...
Na minha opinião, ou nós nos deixamos de conversas sobre «especificidades portuguesas» tendencialmente vazias de conteúdo, e deixamos as pessoas, através da sua interacção umas com as outras, criarem uma cultura vibrante, e avançamos com reformas, ou continuamos no marasmo vigente. Claro que essas reformas não iam ignorar as circunstâncias concretas do país, mas seriam mesmo reformas, e não uma manutenção do «status quo».
Mas claro que é completamente legítimo que alguns queiram continuar na mesma. Aí, manteríamos outra «especificidade portuguesa»: o nosso empobrecimento relativo.
Sem comentários:
Enviar um comentário