Há uns dias atrás, em conversa com um amigo, pessoa com experiência e trabalho feito na área financeira, percebi o que trouxe o país ao estado actual: excesso de consumo externo e pouca exportação.
Para que este problema seja mais entendível imagine uma família composta por 5 pessoas com 10 mil euros, imagine que, por exemplo, em vez de pagar 500 € a uma empregada doméstica, a família paga a um dos elementos os mesmos 500 €. No final das contas a família continua com os mesmos 10 mil euros mas com uma distribuição diferente. Se pelo contrário a família pagar 500 € a uma empregada externa, está a subtrair esse valor ao dinheiro inicial. Desta relação com uma pessoa externa, a família fica com apenas 9500€.
Neste ponto devem estar alguns a pensar, então é simples, para não fazer o dinheiro sair da família esta deve apenas consumir internamente. Este é o argumento de algumas campanhas demagógicas que defendem que para Portugal crescer economicamente deve começar a consumir apenas internamente. Isto não poderia estar mais errado, se pensarmos no caso da família, no caso em que o consumo é interno não existe um aumento de riqueza (i.e. após a transacção, a família continua com os mesmo 10 mil euros). Por outro lado, a família terá sempre que recorrer ao exterior para se abastecer de produtos/serviços que não produz (o que acontece também com os países).
Neste sentido, o que deve fazer a família para conseguir manter os 10 mil euros? Criar uma relação de troca com o exterior, fornecendo serviços/produtos em troca de dinheiro. É precisamente isto que acontece nas famílias, as pessoas trocam o seu trabalho por dinheiro. Assim, se a família tiver que pagar os 500 € a uma empregada doméstica, mas conseguir vender produtos/serviços para o exterior pelo preço de 3 mil euros, vai conseguir manter os 10 mil euros intactos e ainda ter um acréscimo de 2500€, ficando com 12500€.
Assim, a crise que Portugal enfrenta actualmente, relacionada com a dívida soberana e com a dívida dos privados, não se resolve apenas com ajustes no consumo interno, ou seja com a redistribuição do dinheiro. Ainda que compreenda, e em certa medida até defenda, as medidas da “troika”, a verdade é que estas resolvem apenas o (grave) problema da dívida soberana através de uma redistribuição do dinheiro (passagem dos privados para os estado). No exemplo da família, equivale a dizer que parte do dinheiro que está atribuído a cada um dos membros terá que passar para a família no seu todo para pagar dívidas contraídas por esta, no final a família ficará com menos de 10 mil euros, ou seja, mais pobre.
Desta forma, é importante por um lado que o próximo governo cumpra com as medidas acordadas com a “troika”, e por outro que promova o aumento da entrada de riqueza no país, sob o risco de Portugal se tornar num país muito mais pobre. A promoção do aumento da entrada de riqueza significa nada mais nada menos que a promoção do aumento das exportações. Só assim se promove o aumento da riqueza em Portugal e se pode pensar na melhoria das condições de vida do povo português.
Convém promover as exportações de forma sustentável, ou seja, tornando a economia mais competitiva.
ResponderEliminarO acordo com a Troika vai para além disso que tu dizes. Inclui um conjunto de medidas que vão promover a dinamização da economia, nomeadamente as relacionadas com concorrência, com mercado laboral, com a reforma estatal, etc.
Essas reformas vão tornar-nos mais competitivos e, portanto, com maior capacidade para exportar, e para atrair investimento.
Além disso, tudo o que tenha a ver com fim da protecção de certos sectores por parte do Estado, que são quase sempre na área de bens não transaccionáveis, também ajuda nesse sentido, libertando recursos que poderão ser usados de forma mais eficiente.