segunda-feira, 16 de maio de 2011

Educação para a Cidadania (I)

Quantos cidadãos portugueses... 
a) sabem o que estão a eleger nas eleições legislativas?
b) conhecem os poderes da Assembleia da República, do Governo, do Presidente da República e dos Tribunais?
c) sabem como funciona o nosso sistema eleitoral?
d) conhecem o conteúdo da Lei dos Partidos Políticos e da Lei do Financiamento dos Partidos e das Campanhas Eleitorais?
e) conhecem o nosso sistema de referendo?
f) conhecem os seus direitos enquanto cidadãos?
g) conhecem a petição, a iniciativa legislativa do cidadão, ou o orçamento participativo?
h) conhecem os seus deveres enquanto cidadãos?
i) conhecem a totalidade dos partidos existente em Portugal, bem como as traves mestras dos seus programas?
j) conhecem as várias instituições europeias e os seus poderes?
l) conhecem o conceito de «cidadania europeia»?
m) conhecem as quatro liberdades da União Europeia?
n) sabem quais os partidos europeus a que cada partido português pertence?

Seria importante que todos aprendessem os temas mencionados, bem como outros conexos, na escola. Um cidadão deve conhecer os seus direitos e os seus deveres, mas também questões relacionadas com o sistema político e formas efectivas de exercer os seus direitos/deveres enquanto cidadão.

Não nos podemos limitar a dar às pessoas a possibilidade de votar, ou de fazer petições, ou de intervir politicamente em geral. Se as pessoas não conhecerem o sistema, esse desconhecimento vai servir, ele próprio, de bloqueio e entrave à participação, porque as pessoas não sabem verdadeiramente os mecanismos que têm à sua disposição para intervir.

Além de tudo isto, uma formação abrangente sobre estes temas, conjugada com um apelo ao pensamento crítico, facilitaria uma intervenção política informada por parte dos cidadãos. Conhecendo o sistema de forma crítica, é mais fácil tomar posição sobre vários temas que podem vir a surgir relacionados com a reforma desse mesmo sistema (ex. reforma do sistema eleitoral) ou sobre quem eleger para certo cargo. 

Por exemplo, saber quais os poderes e qual a função do Presidente da República ajuda a pessoa a decidir qual dos candidatos lhe parece melhor para exercer essa função, usando esses poderes. Conhecer o sistema eleitoral ajuda a pessoa a decidir qual a forma mais eficaz de votar de acordo com a sua consciência. Saber como funciona a União Europeia facilita a intervenção dos cidadãos no debate europeu. Finalmente, saber que existem iniciativas legislativas do cidadão é condição necessária para que estas se disseminem.

No limite, para quem quiser mudar o sistema, conhecê-lo bem significa que se poderão mais facilmente fazer críticas fundamentadas ao dito, explicando o que corre mal e porquê, apresentando de seguida alternativas. Não basta dizer que alguma coisa está a correr mal para que se mude para melhor. É preciso perceber o que corre mal primeiro, e partir daí para possíveis soluções.

Estas matérias devem ser leccionadas a todos os alunos durante o período de ensino obrigatório. Isto para garantir que, independentemente da sua situação sócio-económica, todos tenham acesso a esta informação. Todos devem saber quais os meios idóneos, legítimos e legais de intervir politicamente na sua comunidade, como primeiro passo para que o pluralismo de ideias dessa comunidade se veja representado no debate público.

Num momento de crise de confiança nas instituições públicas, é importante perceber que parte dessa crise vem de puro e simples desconhecimento de como essas instituições funcionam. É certo que o nosso sistema político tem diversos bloqueios à entrada de novas ideias e dos próprios cidadãos, mas estes bloqueios não só não estão alheios ao desconhecimento geral que existe sobre estas matérias, como este desconhecimento é ele próprio um bloqueio quer a uma intervenção mais activa (as pessoas não sabem como podem intervir), quer a alterações ao sistema (as pessoas não só não conhecem o sistema, como não conhecem as alternativas).

Parte da mudança em Portugal, na minha opinião, passa também por aqui.

1 comentário:

  1. Como me reconheço e idealizo para a nossa sociedade iniciativas como esta, para o fortalecimento e defesa da democracia. Ela bem precisa de tão doente que está. Para jogarmos à democracia temos de saber as regras, para nos defendermos como indivíduo e como comunidade! Parabéns pelo trabalho que tens feito na fomentação da discussão tão rica de ideias e pontos de vista e para a nossa consciencialização política. Foi um prazer conhecer-te num movimento que gatinhou do 12 de Março. Se este não acompanha-mos mais, outros se seguirão com mais maturidade. Abraço

    ResponderEliminar