O modelo de
desenvolvimento descrito e denunciado, com razão, pelo João Mendes
neste texto relembra-me algumas propostas que se ouvem por cá
com mais frequência desde que FMI, troika e austeridade passaram a
fazer parte do nosso léxico diário. Estas propostas passam em
muitos caso por desenvolver em Portugal uma política industrial de
fomento que apoie as empresas exportadores e incentive a poupança
que irá posteriormente alimentar o crédito para investimento. O
Estado Novo, com sucesso moderado, implementou políticas semelhantes
que durante os anos 60 serviram para trazer boa parte da população
rural para as cidades para trabalhar nos pólos industriais recém
criados, praticamente todos eles localizados no litoral. Inicialmente
procurou-se criar industrias locais de substituição de importações
que mais tarde, com a redução de barreiras à entrada no mercado
português e especialmente a entrada na EFTA, se tornariam mais
competitivas e prontas a concorrer nos mercados internacionais. No
nosso caso, o processo foi completamente interrompido com o 25 de
Abril sem que as indústrias em questão pudessem maturar
completamente. A nacionalização e posterior privatização sob
regras e critérios duvidosos só serviu para beneficiar grupos
específicos que nominalmente privados estão ainda perigosamente
próximos do poder político.
No caso de outros países,
especificamente o da Coreia, este tipo de medidas tiveram resultados
diferentes. Aquele país pobre e devastado pela guerra entrou nos
anos cinquenta com uma economia equivalente a alguns países
africanos recém-descolonizados. Mais uma vez uma política de
substituição foi seguida de uma promoção de exportações. A
partir dos anos sessenta contudo o país enfrentava uma concorrência
severa de países mais baratos nos produtos que produzia e na década
seguinte optou pelo proteccionismo de indústrias químicas e
pesadas. No fim dos anos 80, quando a Coreia deu início às reformas
que desmantelaram a ditadura no poder desde a independência, aquele
país já possuía multinacionais muito competitivas para além de
ter logo a seguir enveredado pela exportação de capital, já que a
acumulação doméstica começou a esbarrar contra retornos cada vez
mais baixos. É de salientar que estas décadas foram acompanhadas
por um enorme (às vezes doentio) esforço de educação da
população.
Este programa, inspirado
no japonês e emulado noutros países da região, conseguiu de facto
enriquecer um país outrora profundamente atrasado mas a que custo?
Todo o processo ocorreu em ditadura com os cidadãos obrigados a
depositar poupanças no bancos nacionais tanto porque não tinham
escolha como havendo pouca coisa que consumir não havia muito mais a
fazer com os rendimentos. Foi preciso que os sucessivos governos
estivessem em concordância sobre política fiscal e económica
durante quatro décadas, algo que é difícil mesmo sem pressão
eleitoral. Portugal hoje não tem autonomia para impor barreiras
semelhantes nem acredito que a população esteja disposta a deferir
consumo hoje para obter uma potencial prosperidade daqui a um número
indeterminado de décadas. Podíamos claro beneficiar de alguma
consistência no nosso panorama fiscal que para além de complexo
muda com bastante frequência. Tal como o João diz, devíamos baixar
os impostos às empresas em geral e evitar isenções e programas que
só complicam e representam questões morais significativas. "Porque
é que os meus impostos financiam aquela e não a outra?" entre
outras questões. Infelizmente continuamos a ver as empresas como o
inimigo e aliado daquele maléfico demiurgo de nome "capital"
sem percebemos que só devemos incentivar o sucesso das empresas (e
não as rendas), com apenas a concorrência a beneficiar de
"protecção".
No Economist deta semana há um artigo interessante sobre o Bangladeche, no qual se refere que nesse país democrático, apesar da politiquice fortemente implantada, os governos conseguiram, ao longo de décadas, manter consistentemente algumas políticas sociais coerentes.
ResponderEliminarO que pretendo dizer é que não é impossível que num país democrático os diversos governos consigam manter uma certa linha política consistentemente. Não é forçosamente necessária uma ditadura como a coreana.
Não é forçosamente apenas em ditadura, de facto. O Japão conseguiu o mesmo em democracia (pondo de parte as discussões sobre a "democraticidade" do Sistema de 1955) mas isto sucedeu-se num contexto que era o reverso do de Westminster, com governos essencialmente de fachada e o aparelho burocrático a ditar as políticas a implementar. Não conheço o caso do Bangladexe mas não acredito que Portugal tenha uma configuração institucional que permita consensos de longo prazo, excluindo eventualmente os habituais consensos sobre deitar dinheiro público à rua.
EliminarMancur Olson explica isso bem, infelizmente ter um déspota esclarecido como por exemplo teve Singapura é inexiste ou muito raro.
ResponderEliminarAliás politicas de fomento serão muito mal aceites pela União Europeia e duvido que com um Comissário na Concorrência duro como por exemplo foi Mario Monti as deixe passar.
Abraço