quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As mais absolutas certezas e as mais profundas convicções

Comece-se com uma enorme dose de ignorância. Acrescente-se uma dose de ignorância sobre o nível de ignorância anterior. Polvilhe-se com umas noções básicas sobre um tema qualquer, mesmo que incoerentes, e uma enorme vontade de acreditar numa determinada coisa. Deixe-se a cozer no lume brando do teatro mediático e pronto. Temos as mais absolutas certezas e as mais profundas convicções.

São crenças. Inferências abusivas a partir de meia dúzia de dados, a que se atribui credibilidade muitas vezes precisamente por ajudarem a provar aquilo que se quer provar. A credibilidade é atribuída em função da utilidade daquele dado ser verdadeiro para apoiar a crença, para reforçar a certeza, para aprofundar a convicção, e não por qualquer critério de razoabilidade. Mesmo que estejamos perante nada mais que rumores.

Para apurar a certeza absoluta e a convicção profunda, abstenha-se de ouvir opiniões contrárias e ignorem-se dados que contrariem aquilo que está em causa. Coloque-se em causa a credibilidade de tudo o que não se coaduna com a opinião que se tem à partida. Coloque-se em causa a idoneidade de quem apresenta dados contrários a crença em questão. E ser desconfiado, quase paranóico, e ter enorme abertura ao pensamento mágico ajuda, também.

As mais absolutas certezas. As mais profundas convicções. Abertura apenas àquilo que se encontra de acordo com o que já se pensa - tudo o resto é para rejeitar. Confundir factos com opiniões e opiniões com factos. Confundir o que é desejável, ou aquilo que se deseja, com o que é real. Nos casos mais extremos, uma profunda arrogância, narcisismo e sobranceria - o ego depende das certezas vazias e as convicções vazias sustentam o ego. O pensamento desestruturado, tal como o mágico, também ajuda.

As mais absolutas certezas e as mais profundas convicções, particularmente as assentes em teorias da conspiração sem ponta por onde se lhes pegue, não parecem ajudar nada. No entanto, o fascínio que exercem é patente. A arrogância misturada com a ignorância é uma combinação explosiva. Fecha as pessoas numa jaula mental, de onde apenas muito a custo conseguem sair. Destrói a possibilidade de diálogo e pode dar num feroz pendor destrutivo.

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