Para o PS, também é tudo muito simples. Não contente por estarmos a pagar, e bem, o último programa de estímulos, o PS quer outro. Depois, quando estivermos a pagar esse programa de estímulos, o PS vai querer outro. E assim sucessivamente. A puxar pela economia portuguesa com dinheiro que não existe, despejando esse dinheiro inexistente nos problemas a ver se eles desaparecessem.
O PS tem a distinta lata de acusar o Governo de só falar de cortes. Temos António José Seguro a dizer que com ele a austeridade existiria, mas seria uma «necessidade», não uma «prioridade». Continua a mentalidade de que as finanças públicas não estarem em ordem é irrelevante. Basta que haja «crescimento económico», que se consegue com «estímulos» e desvalorizando o euro.
Mesmo com esta crise, continua muito popular a noção de que haver alguma preocupação em termos as finanças públicas em ordem é terrível. Que o crescimento económico surge porque o Estado o promove através de «estímulos». Mesmo sabendo o que aconteceu depois do último programa de estímulos, de vermos serem planeadas e lançadas grandes obras públicas para serem canceladas mais tarde por não termos hipótese nenhuma de as pagar.
Mas a parte melhor de tudo isto é que já se prevêem milhares de milhões para PME e há programas de incentivo à contratação em curso. Com efeitos notórios. Mas claro, o problema nunca poderá ser esses programas não funcionarem. O problema será sempre esses programas precisarem de mais dinheiro. Dinheiro que nós não temos. Mas isso é um pormenor irrelevante, porque por puro voluntarismo, tudo vai acontecer de acordo com o que nós queremos, e o crescimento brotará por despejarmos dinheiro público como temos vindo, sistematicamente, a fazer.
Numa altura em que temos problemas e somos forçados a confrontar os nossos constantes défices públicos, em que um Governo vem dizer que temos de fazer uma reforma do Estado e fazer cortes drásticos na despesa pública, o PS aproveita para se tornar mais popular através do populismo. Não deve ter reparado no que está a acontecer em França com Hollande ou na Grécia com Samaras. Também eles preferiram o populismo. Chegaram ao topo. Agora, estão a ter, eles, de se ajustar à realidade.
Os programas de estímulos estimulam a imaginação. Contam histórias agradáveis de crescimento, emprego, felicidade, em que por nossa vontade, tudo corre como nós queremos, e com um punhado de medidas, as nossos problemas tornam-se uma coisa do passado. Põem-nos a sonhar, a sonhar, a sonhar, em vez de a debater, a debater, a debater... a reforma do Estado. Sobre a reforma do Estado, só se debatem calendários e possíveis conferências. Preferimos debater se o corte de 0,5% da taxa que era 4% e passou a 3,5% foi uma grande vitória ou não, como se isso fosse sequer parecido com o essencial.
Claramente, a reforma do Estado não estimula tanto a imaginação.
Caro J.Mendes
ResponderEliminarparece-me que as afirmações do BE foram feitas com ironia, á semelhança deste teu post e do interior. Fica então registada a também sua 'arrogância e superioridade de sempre'.
Já em relação ao PS, tenha apenas em consideração que temos um governo com maioria parlamentar que ainda nem ano e meio tém e que não necessita obrigatóriamente do acordo da oposição. A vantagem de Seguro em relação a Hollande é que o PS poderá vir a formar governo em 2014 com uma Alemanha e UE com maioria social-democrata...
'É tudo tão fácil' terá sido a forma como PSD e CDS pensaram que seria ao rejeitarem o programa que tinha sido aprovado pelo BCE e PPE antes do nosso pedido de ajuda externa.
Os cortes fazem diminuir o défice mas não necessariamente a divida publica. Pelo contrário. Sem recessão na ZE, particularmente em Espanha, as receitas fiscais portuguesas seriam muito maiores e o programa de ajuda externa até poderia ser benéfico para Portugal. Mas não é o caso. Por isso este programa nesta conjuntura aumenta as dificuldades, não as diminui. Mas isto claro, 'é tão fácil' de ver!
Rui Torres
Caro Rui Torres,
EliminarPor muito irónicas que as afirmações do BE sejam, a arrogância e a superioridade moral que o BE coloca em tudo o que diz é bastante clara. O BE coloca-se sistematicamente num patamar superior, em que aponta dedos e julga moralmente todos os outros, como se tivesse a única posição moralmente aceitável. Não são os únicos a fazer isso, também há exemplos disto noutras paragens, mas é useiro e vezeiro no BE. E estas declarações são mais um exemplo.
Quanto ao resto, o Governo não precisa de apoio parlamentar do PS para passar cortes, naturalmente, e já tornou claro que mesmo que não tenha acordo do PS, os cortes virão (veremos). O facto do PS não ter de dar o seu apoio para os cortes passarem não significa, no entanto, que não seja preferível ver o PS a explicar onde cortaria, em vez de vir falar de programas de estímulos.
Eu sei que os cortes têm efeito no défice. Acontece que eu considero que ter as contas públicas em ordem é importante para promover um crescimento sustentável e melhorar a nossa situação de forma estrutural. Porque nós temos o nosso problema de curto prazo, mas também temos um problema estrutural a resolver. Infelizmente, estamos a lidar com ele durante uma recessão, seria preferível não estar a lidar com ele durante uma recessão, mas lá
Eu não defendo o programa porque acho que com o programa vamos ter crescimento económico amanhã. E sim - o programa de ajustamento tem efeitos recessivos e nós estamos numa recessão. Acontece que não temos a margem de manobra financeira para andar a falar em estímulos públicos (nem eu considero que devêssemos andar a falar de estímulos públicos, de qualquer forma).
Finalmente, se em 2014 tivermos uma maioria social democrata na UE, com um Governo com António José Seguro como PM em Portugal e Hollande como Presidente em França, veremos se essa maioria social democrata se entende e se vamos ter um enorme programa de estímulos europeu (e como o iríamos pagar). E veremos se em França mostrarão grande apetite por democratizar a UE e por maior integração política.
Só não tocou na rejeição do PECIV por parte do PSD e CDS (BE e PCP teem pelo menos sido coerentes quanto á sua posição nessa matéria, quer isso seja entendido como arrogância ou superioridade ou não). PSD/CDS rejeitaram o que o PPE e Merkel e Barroso e BCE tinham aprovado e provocaram uma crise politica (note-se também que já em 2009 nenhum partido da oposição aceitou coligar-se com o PS, e o PR não quiz ). É de facto arrogância vir agora querer que o PS tenha que de livre vontade apoioar ou apresentar medidas alternativas a um governo que tem maioria parlamentar. Não quero com isto dizer que não o deveria fazer, mas porque não é obrigado a fazê-lo, não tem que o fazer (ainda por cima com o que se passou com a rejeição demagógica e populista do PECIV). Penso no entanto que concordarias comigo, que toda a oposição deveria ser obrigada por lei a apresentar um orçamento alternativo ao do governo, e que que o governo torna-se acessivel a todos as contas públicas. Penso que isso ajudaria imensso ao debate público.
EliminarO programa de ajuda externa a Portugal foi feito numa altura em que se tinha a sensação que a UE iria conseguir estancar a pressão que tinha vindo a ser feita ao EURO. Mas não conseguiu. (E a seguir a Portugal, vieram pressões para Espanha e Itália e Chipre.. e só não foram para Inglaterra não só porque lá se pode imprimir dinheiro, mas também porque a sua influência em politica económica externa não é comparavel á portugesa). Na altura do acordo com a TROIKA não se previa que no final de 2012 a ZE estivesse em recessão. E é aí onde reside o falhanço destas políticas em Portugal, e por isso seria benéfico se o acordo podesse vir a ser renegociado. Para que o estado não tenha que fazer estimulos, é preciso ter um privado forte, e não existe privado forte se o mercado da nossa zona monetária está em continua recessão económica. E com estas politicas o défice díminui mas a dívida (que é o que indica consolidação das finanças públicas) aumenta. Será bom lembrar que no relatório da quinta avalaiação o FMI prevê que a divida externa portuguesa ainda estará acima dos 60%PIB EM 2030. Isto acontece mesmo com um défice sempre abaixo dos 3%PIB apartir de 2015. Mais, as razões para tal são consequência, assim o diz o FMI, pela recessão económica na ZE e pela baixa de receitas fiscais em Portugal que a recessão em escala europeia provoca. E também porque as reformas estruturais que Portugal tem feito levam o seu tempo a dar frutos.
Neste ultimo aspecto, é bom comparar as tão aclamadas reformas no mercado laboral alemão, a que Merkel se referiu na semana passada e que muitos (incluindo aqui num recente post de J.Bernardino ao qual também respondi) têm como referencia: 1) As Hartz Reforms foram implementadas em clima de crescimento económico na ZE e não em recessão. 2) A ideia do "make work pay" não foi feita através da diminuição das prestações sociais, mas antes através de um aumento na formação técnica o que levou a aumento dos salários. 3) Ao mesmo tempo que estas politicas estavam a ser concretizadas, 2002-2005, a Alemanha quebrava o Pacto de Estabilidade e Crescimento.
Junho de 2014 será sem dúvida um momento decisivo que trará consequências directas para as eleições em Portugal, Espanha, e Inglaterra em 2015. Mas também importantes as do próximo ano na Alemanha, como foram as da França este ano. Isto é o melhor que a democracia tem, mas claro, funcionaria significativamente melhor se a UE usufruisse de maior legitimidade nas suas instituições.
Esqueci-me de assinar!
EliminarRui Torres
Caro Rui,
EliminarA minha resposta ficou longa demais para a caixa de comentários. Poderá encontrá-la aqui:
http://www.cousasliberaes.com/2012/11/estimular-imaginacao-resposta-comentario.html
Obrigado pelo interesse e pelos comentários!