"Deve haver um dia em que a sociedade, como os indivíduos, chegue à maioridade." - Alexandre Herculano
sábado, 29 de outubro de 2011
Todos temos ideologia
Há uma mediação entre o «ser» e o «deve ser». Essa intermediação vem da nossa avaliação e interpretação da realidade. Em suma, das nossas opiniões. E as opiniões são, por natureza, subjectivas, mesmo que fundamentadas com dados empíricos. As diferenças de opinião resultam em debates que têm por pano de fundo tentar convencer os outros de que a nossa avaliação da realidade e sobre o «dever ser» é melhor.
Desconfie de quem lhe disser que não tem ideologia, de quem lhe disser que tem opiniões «objectivas» e «factuais». No limite, opiniões «correctas». Estas não existem, muito menos em política. Podemos discutir quais os resultados das políticas do Governo, mas atacá-las por serem «ideológicas» é um ataque trivial. É que as alternativas às políticas do Governo têm também subjacente uma ideologia.
Os ataques à «ideologia» têm como resultado que os actores políticos vão ser incentivados a tentar obscurecer as suas opções ideológicas. As opções políticas vão ser apresentadas, por todos os lados, não como a melhor alternativa, mas como a única alternativa. E essa apresentação tenderá a ser feita, ainda por cima, no formato de «slogans» triviais sem qualquer substância.
Em vez de se aceitar o pluralismo ideológico e promover o diálogo entre diferentes concepções do mundo, acaba a promover-se, na melhor das hipóteses, gritarias entre actores políticos que arrogam para si a Verdade e a objectividade, obscurecendo as opções ideológicas subjacentes às suas escolhas. Na pior das hipóteses, a negação de validade a opções ideológicas contrárias tem tendência para resvalar para regimes de pensamento único.
Numa sociedade livre, aberta e plural, é importante aceitar que todos temos ideologia, e que essas ideologias influenciam e condicionam as nossas opções políticas, quer exerçamos cargos públicos quer apenas escolhamos exercer, ou não, o nosso direito de voto. Essa aceitação é fundamental para que haja um defesa clara da liberdade de expressão e de opinião, sendo ainda muito importante para promover a emergência de acordos políticos.
É urgente que combater o apelo populista do discurso que se diz «a-ideológico». É urgente preservar o pluralismo e a liberdade de pensamento, e promover o debate político substantivo.
Apontamentos sobre o OE 2012 (I)
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
A Cubanização da Economia Portuguesa: Workshop de Sobrevivencia
"Workshop Cubanizacao da Economia Portuguesa / Um Plano para 2012-2015"
Dia 1:
10.00 Extendendo "La Vida Util de Su Coche (Como por o Seu Renault Clio a fazer 2.000.000Km)
11.00 Transformar uma loja da Apple no centro de Reparacao Automovel do Seu Bairro
12.00 De Director Financeiro a Mecanico do Bairro em 10 licoes (é mais fácil do que julga!)
13.00 Cantinas Sociais ou como evitar o IVA de 23% da restauração.
15.00 Se sairmos do Euro: como trazer divisas para Portugal? Técnicas de evasão.
16.00 Prisão e policias politicas - técnicas de resistencia passiva em ambiente de interrogatório por parte do fisco.
17.00 Sexo ou a melhor forma de poupar electricidade e TV cabo.
18.00 Como por o seu TV LCD do ano passado a durar ate 2020
19.00 Como fazer um box da TDT apenas com sobras de electrodomésticos da sua cozinha
20.00 Como sacar os jeans vintages dos turistas que nos visitam (e fazer com que pareçam melhores do que os da Diesel).
21.00 Como sacar um segundo emprego sem pagar IRS.
22.00 Como emigrar de Portugal para os EUA (sem ser numa balsa).
... e perdoem-nos a dívida, como vão fazer com a Grécia!
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Intervenções no blogue 'The Lisboners' (VI)
Abaixo fica o primeiro comentário, que é um comentário directamente ao artigo:
«How is it rational to treat Greece as if they were simply caught up in a bad situation that had nothing to do with them when that simply isn’t true? The Greek economy relied excessively and unsustainably on debt, as did the Greek State, egged on by misapplied and overly optimistic ratings (though few complained about those as they do about less stirling ratings). It did so to fund an uncompetitive economy and an overblown State.
Greece should be restructuring its economic structure, though it’s not been easy to actually implement structural reforms, to put it mildly. Of course they’re not popular. But governing isn’t simply about doing what’s popular. It’s about doing what one thinks is best, and then, in a democracy, be judged for it at the polls.
Finally, even if Greece were actually implementing reforms more steadily, you can’t expect results from structural changes in the short-term. There is an adjustment period. It’s painful, but it’s there, and it needs to be managed.
We can’t keep looking at the short-term. That’s what got us into this mess in the first place. We can’t solve structural problems, as they are in Greece and in Portugal, by throwing money at them, as that’ll only cause inflation and make those problems worse.
And, as a federalist, I would hope we’d take the time to discuss the European Union properly, but it seems it’ll be hard for that to happen.»
domingo, 16 de outubro de 2011
Indignados
Arrogar-se o título de «representantes do povo» demonstra a pretensão de que as opiniões delas são aquelas que contam, são as opiniões «do povo». Só eles sabem o que é a «verdadeira democracia» (mas não explicam o que é), só eles têm os «olhos abertos» (por muito que não saibam o que um «credit-default swap») e só eles têm uma «verdadeira alternativa» (que varia de indignado para indignado).
Todos temos direito à manifestação. Ainda bem que a manifestação foi pacífica. Mas quem me representa é quem eu digo que me representa, não é alguém que se auto-proclama como «representante do povo». E esta tentativa de deslegitimar as eleições e a actuação do Parlamento é uma forma de deslegitimar a democracia representativa que temos vindo a construir, e que de facto precisa de reformas.
As «Assembleias Populares», «ad hoc», em que a pressão de grupo coage no sentido do pensamento único, acompanhadas de distribuição de papéis com perguntas enviesadas (vulgo, «referendo popular) poderão ser uma boa forma de, pacificamente, discutir questões que preocupem quem lá vai, mas não são uma grande novidade, uma grande conquista, uma grande revolução. Tal como acampar em praças públicas, «privatizando-as» durante esse tempo, não é uma grande vitória nem um grande passo no sentido de resolvermos os graves problemas com os quais nos confrontamos.
Reitero que valorizo imenso a forma pacífica como os «indignados» se têm comportado em Portugal, e que não foi seguida, por exemplo, na Grécia (caso extremo) ou em Itália. Reitero que as manifestações pacíficas são perfeitamente legítimas e são uma forma saudável de manifestar desacordo com políticas seguidas pelo Parlamento ou pelo Governo. Mas confesso que ainda não vi nos «indignados» alternativas credíveis. Não vi uma visão estratégica sobre o que fazer no futuro. E é disso, mais do que tudo, que precisamos.
Quando falo em «credíveis», não me refiro a repetir o que dizem Boaventura de Sousa Santos (cujo passatempo parece ser descaracterizar as posições económicas liberais e mascarar vacuidade com jargão técnico) ou Jerónimo de Sousa (cujo discurso nacionalista e economicamente conservador é tragicamente apelidado de «esquerda»), para dar dois exemplos. É preciso que o debate seja intelectualmente honesto e não assente em chavões, que foi aquilo em que se transformaram expressões como "neoliberalismo" ou "ultra liberalismo".
É que no limite, o que me parece é que estas pessoas querem «democracia real» porque o Parlamento eleito não tem a maioria que elas desejariam, e está a implementar políticas de que elas não gostam. E portanto, os «indignados» tentam retirar legitimidade ao Parlamento e à democracia vigente. Porque se não conseguem implementar as suas medidas formando maiorias após eleições, então tentam consegui-las por outras vias, nomeadamente tentando que o poder «caia na rua».
Só que o poder cair na rua não é equivalente a democracia. O poder cair na rua, o poder das «multidões», é conferir muito realmente poder a essas multidões para ignorarem os direitos individuais de cada um. E esse tipo de democracia, para mim, não é «democracia real». É «mob rule». E se por enquanto, em Portugal, temos assistido a manifestações pacíficas, a «mob rule» tende a ser tudo menos pacífica.
P.S. Há também a pretensão dos «indignados» de dizerem representar a maioria da população, quando não dizem simplesmente que são representantes do povo. Acontece que a maioria da população que votou nas eleições, votou no PS, no PSD e no CDS-PP, todos eles partidos ligados à Troika, e tinha a hipótese de ter votado no BE, no PCP e noutros partidos. Será isso algo a ignorar? Ou vamos agora andar com a tese de que as pessoas foram «enganadas», apesar de sistematicamente lhes ter sido dito que se ia ir além da Troika, além de se terem descoberto buracos nas contas (que poderão, concedo, não justificar, só por si, um orçamento tão para além do previamente definido com a Troika)?
Eu não passo um atestado de «coitadinho» à população portuguesa. As pessoas sistematicamente votaram em partidos com programas que nos puseram nesta situação e, nas eleições passadas, votaram em partidos que disseram claramente que iriam além da Troika. E isto aplica-se ao Continente e à Madeira. Porque eu, contrariamente a uma certa Esquerda que por aí anda, não aplico um «standard» à Madeira e outro ao Continente.
sábado, 15 de outubro de 2011
Termos-chave no inexistente discurso político em Portugal
Não há debate político sério em Portugal
Mas não há debate político em Portugal. Há acusações sobre as motivações dos outros, há descaracterizações das posições dos outros, há uma completa incapacidade para ir além de demagogia e populismo descarados. E neste momento, na minha opinião, se do BE e do PCP não se podia esperar muito (leia-se: não se podia esperar nada), do PS devíamos poder esperar mais.
A verdade é que António José Seguro tem andado de acusação pífia em acusação pífia, e agora anda a demarcar-se da austeridade, fugindo das responsabilidades que o PS tem na situação actual do país. O seu discurso é consistentemente desprovido de interesse. Fala em chavões, ataca o Ministro da Economia, por lhe parecer o alvo mais fácil, e exige crescimento económico, como se o Governo criasse crescimento económico sustentável carregando num botão.
Bem sei que há quem acredite que o dinheiro cresce nas árvores, que continue a encarar as empresas como zonas de guerra entre «patrões» e «trabalhadores», que a situação financeira dos Estados é parecida com a situação que existia no tempo do Keynes (dica: não é nada parecida), que as obras públicas trazem desenvolvimento simplesmente por existirem, e que tudo o que se passa em Portugal é resultado de uma terrível crise que envolve decisões erradas de toda a gente menos da população portuguesa.
Ora bem, numa democracia representativa, não há como a população fugir às suas responsabilidades. Os votos das pessoas ajudaram a eleger maiorias parlamentares que aumentaram a dívida e criaram a situação insustentável na qual acabámos. A sociedade civil portuguesa mantém-se incipiente, pouco profissionalizada, ou muito dependente do Estado. As nossas empresas continuam a precisar de maior «know-how» a todos os níveis, não apenas para os colaboradores.
Enquanto continuarmos todos à espera que o Estado resolva todos os problemas, mormente com subsídios, não chegamos lá. Quando nos começarmos a organizar, mesmo a nível local, para resolver problemas, aí as coisas começarão a mudar. Aí teremos um sinal de que há uma alteração cultural, uma mudança de mentalidades na sociedade portuguesa no sentido da resolução de problemas, e não da exigência de que os nossos problemas devam ser resolvidos por outros.
Parte dessa mudança de mentalidade poderia vir de haver um debate público sério sobre os problemas do país, sobre a forma como cada um de nós individualmente, ou em grupo, pode ser parte da resolução dos nossos problemas actuais, independentemente do Estado. Que podemos fazer mais do que exigir subsídios estatais, podemos arregaçar as mangas e tentar, por nós próprios, e com outros que concordem connosco, resolver problemas.
Mas para isso, seria necessário haver debate político sério em Portugal. E não há.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
A actualidade de Mil Novecentos e Setenta
domingo, 9 de outubro de 2011
A dogmática da trivialidade (II)
sábado, 8 de outubro de 2011
Comunicação Social e Erros sobre Conceitos
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
"Make the case for Europe"
"(...) Donc je crois qu'on doit demander à nos institutions, mais aussi à nos États membres, aussi à Paris, à Berlin, à Athènes, à Lisbonne, à Dublin, un sursaut de fierté d'être Européens, un sursaut de dignité, et dire à nos partenaires «Merci pour vos conseils, mais nous sommes capables ensemble de dépasser cette crise». J'ai cette fierté d'être Européen."
"(...)Assim, considero que devemos exigir às nossas instituições, mas também aos nossos Estados Membros, também a Paris, a Berlim, a Atenas, a Lisboa e a Dublim, uma afirmação veemente do orgulho de sermos europeus e uma afirmação veemente de dignidade para podermos responder aos nossos parceiros «Agradecemos os vossos conselhos mas somos capazes de, em conjunto, ultrapassar esta crise». Eu sinto este orgulho de ser europeu."
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Financial Disaster Tourism
The Daily Show With Jon Stewart | Mon - Thurs 11p / 10c | |||
Exclusive - Michael Lewis Extended Interview Pt. 2 | ||||
www.thedailyshow.com | ||||
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