A Economia Política foi o sector que mais rapidamente incorporou as técnicas de Planeamento por Cenários, conforme são entendidos pelos profissionais de Prospectiva ou Estudos Futuros.
A introdução desta nova técnica criou alguma confusão por estavam habituados a falar em Previsões, mas progressivamente este metodologia vai se mostrando como a única que faz sentido numa situação de elevado nível de incerteza.
Quando olhamos para os planos de austeridade, a razão para usar cenários torna-se clara. Ao usar uma previsão, o plano de austeridade era assente em cima do que se considerava mais provável de acontecer. Contudo, os analistas incluindo as agências de rating, olhavam para a previsão e viam que era fácil as coisas não correrem como o esperado.
Ao usar cenários, podemos criar um cenário optimista, o cenário mais esperado e o cenário pessimista. O plano de austeridade deve ser criado em cima do horário pessimista. Se nos prepararmos para o pior sabemos que estamos preparados para qualquer situação. É assim que se garante confiança aos mercados.
Esta diferença entre a previsão (cenário mais provável) e o cenário pessimista gerou confusão, pois o governo anuncia que espera um determinado crescimento e depois fala-se num cenário muito pior. Na verdade, um governo que dê estas duas informações não se está a contrariar. A falha está de quem tenta percepcionar esta metodologia e não compreende a diferença que existe entre as duas.
Uma das consequências positivas desta metodologia, é gerar muito menos notícias espalhafatosas e alarmistas na comunicação social. Usando Cenários, os média não poderão dizer constantemente que as previsões falharam. Apenas o poderão dizer se for pior que o pior dos cenários ou melhor que o melhor dos cenários.
Também o novo Ministro das Finanças cometeu uma pequena gafe, no seu discurso de 14 de Julho ao dizer que estava pronto o Cenário realizado entre o Governo e a União Europeia. Ora se criaram apenas uma imagem, trata-se de uma previsão e não de um Cenário, porque este último depende de existirem várias possibilidades levantadas.
Esta pequena falha não tem contudo qualquer importância, especialmente se compararmos com a grande falha que foi a análise das agências de Rating ao sub-prime, que resultou na crise internacional. Se acreditarmos, como eu acredito, que não houve qualquer conspiração para gerar esta crise, então a explicação para o colossal erro foi uma metodologia de análise errada.
O produto de crédito conhecido como sub-prime era nitidamente de alto risco, ainda que as evidências indicassem o contrário. Para que os indivíduos de classe baixa conseguissem pagar as suas dívidas, eram necessários alguns pressupostos: que o imobiliário continuasse a valorizar, que a percentagem de devolução de casas continuasse baixa, que o desemprego se mantivesse em níveis elevados, que as taxas de juro continuassem baixas. Ora todas estas questões mantinham-se verdade há bastante tempo e sendo tantas variáveis necessárias para o colapso, pela metodologia habitual de análise financeira a crise que acabou por acontecer parecia pouco provável.
O problema foi a natureza sistémica destas variáveis, que estabeleciam uma relação de independência entre si, ou seja, ocorrendo uma, as outras ganhavam mais hipótese de ocorrer. Por isso, seria fácil desenhar um cenário, em que na consequência de uma crise económica, o desemprego aumentava, os endividados começavam a devolver as suas casas ao banco, o valor do imobiliário descia e a taxa de juro disparava.
É esta natureza sistémica que é possível analisar através do uso de cenários e que não se consegue fazer através dos modelos clássicos de previsão Económica.
E depois do falhanço colossal das mais conceituadas agências de rating, não é de surpreender que políticos e economistas se apressem a incorporar as novas ferramentas de Planeamento por Cenários.
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