terça-feira, 26 de julho de 2011

A consciência liberal do extremismo.

Há uma hipocrisia subjacente aos governos no Ocidente e na comunicação social em torno dos extremismos.
(e tenho estado maravilhado com os cartoonistas do the Guardian)

Denunciar um extremismo sem cair numa caricatura de um grupo específico pareceu até a pouco tempo politicamente incorrecto, após a extrema direita europeia ter inventado e feito cair um falso tabu sobre o islão. Um terrorista para ser terrorista tinha de ser muçulmano. (Aliás a política do medo necessita geralmente de um inimigo suficientemente vago e pouco conhecido da generalidade da população a assustar para que se torne quase mítico) A comunicação social adaptou-se a isso, e a direita generalista acabou por aceitar esses talking points absurdos chamados de "defesa dos ideais europeus" quando na sua essência colocam eles mesmos em causa: não presumindo a inocência, falsamente generalizando, isolando ainda mais as minorias, fazendo políticas erradas de integração baseadas em nos mesmos estereótipos, rotulando comunidades... Tanto erro numa política de procura desse nicho de votos (e de mercado) que graças a esta situação tem proliferado pela Europa a tal ponto que se sente com impunidade para fazer o que aconteceu na Noruega.

E por isso começou tudo por culpar o suspeito do costume...

O extremismo é hoje um problema mais complexo do que o simples associar um grupo a um comportamento. Parte desse problema deve-se exactamente a essa abordagem. E não é só terrorismo, ou violência, ou seja o que for. Polarização política para nichos de votos de gente mal informada e claramente não-democrática prejudica todo o funcionamento das instituições e da sociedade em geral. Nos EUA o problema cada vez foge mais ao controlo.

Perdemos a razão quando achamos que os inimigos das sociedades livres são só aqueles que se opõem fundamentalmente à liberdade em si, e esquecemos que as sociedades livres dão-lhes o direito de se opor. Isto resulta num paradoxo, cuja ausência de resolução permite o proliferar mais extremismos. (see no extremism, hear no extremism, speak no extremism) Que pode uma democracia fazer com os seus membros anti-democratas?

Mas não sejamos naíves, a democracia não subsistirá sem democratas. Mais, sem uma educação para a democracia continuaremos a ter um tecido social politicamente inconsciente, culturalmente inepto, e produtor de extremismos e ignorantes, nas minorias e nas minorias. Sem uma educação para a democracia não conseguiremos integrar as minorias, principalmente as de origem muçulmana, e promover os tais valores europeus. Não é a pura existência de liberdade de expressão e opinião, de voto e associação que se justificará por si mesma, sem que saibamos usar estes mecanismos para se justificarem. Mais, estes mecanismos, sem a bagagem ética necessária, operarão contra si mesmos.

E há muito mais, uma verdadeira integração passa pela promoção das minorias, pela reforma do sistema de justiça e principalmente o prisional, pela própria liberdade económica, entre outros. Mas essencialmente é a educação, que tanto às minorias como às maiorias ensina e transmite o património comum dos valores, e a memória colectiva do ocidente. Educação para a produtividade económica, para a competitividade, para a ciência é óptimo. Mas isso também a China e o Irão o podem fazer. O que destingiria o Ocidente dos outros é a educação para a democracia, a educação para a res publica. O que distinguiria o Ocidente dos outros é que no Ocidente não haveriam outros, mas sempre um "nós" colectivo e político, igual nas oportunidades e perante a lei.

E quanto aos liberais: saibam destingir o trigo do joio. Liberalismo não é nem Geert Wilders nem Tea Party. É a impunidade com que estes grupos se movem que permite acontecer o que aconteceu. A consciência do liberal espera-se desperta para estar do lado certo da História.

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