domingo, 17 de julho de 2011

O Euro e Passos Coelho

O Primeiro Ministro também decidiu falar de desvalorizar o euro, nisso acompanhando o Presidente da República. Já não bastava Aníbal Cavaco Silva não perceber que não há desvalorizações competitivas na União Europeia, porque o BCE é independente, agora é o Primeiro Ministro que não parece perceber que enviar este tipo de recados ao BCE não vai encher ninguém de confiança.

O pior que podia acontecer à UE neste momento seria aplicar-se-lhe o «modelo de desenvolvimento» que Portugal usou precisamente até entrar no euro, assente em desvalorizações políticas da moeda única. Pensar que a primeira e a terceira figura do Estado em Portugal andam por aí a promover isso é demonstrativo de que a mentalidade que nos levou onde estamos hoje não morreu.

O grande debate que temos de ter hoje na União Europeia não é sobre a missão do BCE ou sobre a sua independência, que devem ser mantidas intactas, e até reforçadas, se possível. O grande debate que temos de ter é sobre a transformação da UE numa verdadeira federação, nomeadamente a nível das finanças públicas e dos impostos. Isso sim, seria um debate sobre como dar maior credibilidade ao euro e dar maior capacidade à UE para lidar com crises.

Mesmo de um ponto de vista de competição entre o euro e o dólar no que toca a ser a moeda de reserva global por excelência, a mensagem que se quer enviar não pode ser que o euro vai ser desvalorizado por motivos puramente políticos quando der jeito. A melhor forma do euro concorrer com o dólar é precisamente tornar claro que o euro é uma moeda estável e de confiança.

Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva têm responsabilidades importantes neste momento de crise, principalmente o primeiro. A todos têm dito que Portugal não pode falhar.

Pois bem, com estas afirmações, Portugal pode não ter falhado. Mas eles os dois, falharam de certeza.

6 comentários:

  1. Eu não discordo que seja bom para nós o Euro desvalorizar. Facilita em muito a nossa balança comercial. Por outro lado, concordo que essa não deve ser uma estratégia de longo prazo.

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  2. O euro não existe para servir de ferramenta proteccionista, quer da zona euro, quer, e especialmente, de Estados Membros específicos. Não existe, nem deve passar a servir para isso.

    Foi precisamente para evitar estas coisas que foi dada independência ao BCE, e que o seu mandato se esgota no controlo da massa monetária em circulação/no controlo da inflação (como lhe queiras chamar).

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  3. João,
    Os jornalistas podem ter-te dado a impressão errada em relação às intenções do PPC de supostamente querer influenciar o BCE.

    Nada mais errado, tendo em conta as declarações dele, que, ao contrário do caso engraçado do ""desvio colossal"", foram gravadas.

    http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article703043.ece

    Aliás, sobre o caso acima, é muito curiosa a resposta irónica do Ministro das Finanças:

    http://videos.sapo.pt/aan7sOcHF3ZgspwgUhdh


    A confiança que se pode ter actualmente nas interpretações do frenesim jornalístico do dia-a-dia é muito pequena.

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  4. Não sou eu que o digo. As palavras que lhe saíram da boca foram: "A política do BCE é independente (...) Estou certo de que o PR não teve a intenção de dizer ao BCE o que fazer"

    Os títulos dos jornais conseguem distorcer a declaração a ponto de dar a imagem exactamente ao contrário do conteúdo da declaração.

    Falando em processos que levam à construção da sabedoria convencional... :)

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