O Primeiro Ministro também decidiu falar de desvalorizar o euro, nisso acompanhando o Presidente da República. Já não bastava Aníbal Cavaco Silva não perceber que não há desvalorizações competitivas na União Europeia, porque o BCE é independente, agora é o Primeiro Ministro que não parece perceber que enviar este tipo de recados ao BCE não vai encher ninguém de confiança.
O pior que podia acontecer à UE neste momento seria aplicar-se-lhe o «modelo de desenvolvimento» que Portugal usou precisamente até entrar no euro, assente em desvalorizações políticas da moeda única. Pensar que a primeira e a terceira figura do Estado em Portugal andam por aí a promover isso é demonstrativo de que a mentalidade que nos levou onde estamos hoje não morreu.
O grande debate que temos de ter hoje na União Europeia não é sobre a missão do BCE ou sobre a sua independência, que devem ser mantidas intactas, e até reforçadas, se possível. O grande debate que temos de ter é sobre a transformação da UE numa verdadeira federação, nomeadamente a nível das finanças públicas e dos impostos. Isso sim, seria um debate sobre como dar maior credibilidade ao euro e dar maior capacidade à UE para lidar com crises.
Mesmo de um ponto de vista de competição entre o euro e o dólar no que toca a ser a moeda de reserva global por excelência, a mensagem que se quer enviar não pode ser que o euro vai ser desvalorizado por motivos puramente políticos quando der jeito. A melhor forma do euro concorrer com o dólar é precisamente tornar claro que o euro é uma moeda estável e de confiança.
Pedro Passos Coelho e Aníbal Cavaco Silva têm responsabilidades importantes neste momento de crise, principalmente o primeiro. A todos têm dito que Portugal não pode falhar.
Pois bem, com estas afirmações, Portugal pode não ter falhado. Mas eles os dois, falharam de certeza.
Eu não discordo que seja bom para nós o Euro desvalorizar. Facilita em muito a nossa balança comercial. Por outro lado, concordo que essa não deve ser uma estratégia de longo prazo.
ResponderEliminarO euro não existe para servir de ferramenta proteccionista, quer da zona euro, quer, e especialmente, de Estados Membros específicos. Não existe, nem deve passar a servir para isso.
ResponderEliminarFoi precisamente para evitar estas coisas que foi dada independência ao BCE, e que o seu mandato se esgota no controlo da massa monetária em circulação/no controlo da inflação (como lhe queiras chamar).
João,
ResponderEliminarOs jornalistas podem ter-te dado a impressão errada em relação às intenções do PPC de supostamente querer influenciar o BCE.
Nada mais errado, tendo em conta as declarações dele, que, ao contrário do caso engraçado do ""desvio colossal"", foram gravadas.
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article703043.ece
Aliás, sobre o caso acima, é muito curiosa a resposta irónica do Ministro das Finanças:
http://videos.sapo.pt/aan7sOcHF3ZgspwgUhdh
A confiança que se pode ter actualmente nas interpretações do frenesim jornalístico do dia-a-dia é muito pequena.
Espero que tenhas razão, João!
ResponderEliminarNão sou eu que o digo. As palavras que lhe saíram da boca foram: "A política do BCE é independente (...) Estou certo de que o PR não teve a intenção de dizer ao BCE o que fazer"
ResponderEliminarOs títulos dos jornais conseguem distorcer a declaração a ponto de dar a imagem exactamente ao contrário do conteúdo da declaração.
Falando em processos que levam à construção da sabedoria convencional... :)
E falando sobre rigor nos «media»...
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