Se uma empresa estivesse encarregue de aferir a qualidade de determinado produto, por exemplo a água, e tivesse cometido o mesmo erro que a Moody’s, já não existiria e teria tido processos criminais e cíveis que dificilmente ganharia.
O que aconteceu a 15 de Setembro com os ratings da Lehman é o equivalente a que essa empresa avaliadora da água, tivesse “dito” que determinada água era de muito boa qualidade, mesmo benéfica para a saúde, e depois se descobrisse que a mesma continha um químico tóxico e muitas pessoas tivessem morrido por ter bebido dessa água. Mais, muitas destas pessoas só beberam aquela água dada a credibilidade passada desta empresa e a mesma só mudou a sua opinião muito depois de já ser conhecido pelo público desta situação. Ou seja, apesar de ter conhecimento que a água era tóxica continuou a manter a opinião sobre a boa qualidade dessa água.
Ao contrário do que foi argumentado estas empresas não emitem simples “opiniões”. Formulam autênticos pareceres com peso e consequências no normal funcionamento dos mercados. Como empresas que são, têm responsabilidades sobre os seus actos e pela consequência dos seus produtos. Em teoria, qualquer pessoa diria que seria o mercado a resolver este problema. Ora 2008 serviu para provar precisamente o contrário. E porquê? Parece-me que tal ficou a dever-se a dois factores:
- As empresas de rating operam num mercado de reputação: Antes da crise financeira, e precisamente por este motivo, dir-se-ia que este mercado não permitiria que as empresas falhassem pois acabariam por abrir falência de imediato. No entanto foi negligenciado o facto de que um mercado de reputação tem uma elevada barreira à entrada: a reputação. Esta demora muito tempo a ser criada, pelo que quando o mercado falha (e neste caso as três que dominam o mercado falharam todas) existe um longo período até que um concorrente consiga entrar.
- O mercado funciona em Oligopólio: A reputação é algo que demora anos a ser criado, e uma vez criada, serve como barreira à entrada de novos actores. As pessoas tendem a reforçar os laços de confiança, e neste mercado têm uma tendência a procurar uma base comum de linguagem. Alguém que está a avaliar investimentos em Tokyo, Lisboa, Nova Iorque, Dubai e São Paulo, tenderá a escolher uma empresa que avalie da mesma forma todos estes produtos, ou seja a mesma empresa. O tempo é um factor que tem um custo elevado nos investimentos. O investidor não tem tempo, nem racionalidade, para compreender todos os métodos diferentes que n empresas poderiam ter para emitir um rating. Assim, mesmo em regime de mercado livre, existirá uma tendência natural para um oligópolio aparecer e se manter.
Dito isto, o que aconteceu em 2008, não foi uma, mas duas situações em que ocorreu o factor “too big to fail”. Um foi o sector bancário, e quem suportou foi o Estado. No outro foram as empresas de rating, mas neste caso quem suportou foi o próprio mercado. Em ambos o que aconteceu é que empresas que deveriam ter saído de mercado (a.k.a. falido) continuaram a existir. A diferença é que enquanto num caso, e por causa da intervenção estatal, foram criados mecanismos de controlo, e mesmo regulação, mais eficiente (por exemplo a obrigatoriedade de uma maior capitalização dos bancos para fazerem face a perdas), no outro nada se fez, e hoje como ontem, estamos com os mesmos problemas.
O downgrade de Portugal serve como exemplo último desse problema. Não existe um único motivo para tal decisão neste momento (a não ser que a Moody’s tivesse cometido um erro na sua análise anterior, mas pelo menos esse não é um motivo apresentado no seu relatório). Os que apresentaram foram os seguintes:
«1. The growing risk that Portugal will require a second round of official financing before it can return to the private market, and the increasing possibility that private sector creditor participation will be required as a pre-condition.
2. Heightened concerns that Portugal will not be able to fully achieve the deficit reduction and debt stabilisation targets set out in its loan agreement with the European Union (EU) and International Monetary Fund (IMF) due to the formidable challenges the country is facing in reducing spending, increasing tax compliance, achieving economic growth and supporting the banking system.»
Antes demais, o ponto 1 só acontece se o ponto 2 acontecer. Assim importa saber o que aconteceu em Portugal para agora termos tido um downgrade. Este processo começou a 05 de Abril e desde essa altura:
1)Chegámos a acordo com IMF e EU para uma ajuda até 2013;
2)Passamos a ter um governo de maioria absoluta;
3)As eleições aumentaram o espaço político dos partidos que se assinaram o acordo (ou seja maior base de suporte para implementar as reformas);
4)O novo governo mostrou-se disponível para implementar medidas duras para atingir os objectivos.
5)Não existiram alterações macroeconómicas significativas às previsões durante este período.
Ou seja, seria difícil termos tido um melhor desempenho no período que medeia 05 de Abril até ao momento em que saiu este downgrade. O ponto dois é completamente infundado. Por outro lado estranho que este argumento seja utilizado a ano e meio da reentrada de Portugal no mercado. Mais parece que a Moody’s foi a uma cartomante para chegar a esta decisão.
Sem ser uma questão de fé, neste momento não existem bases para concretizar o downgrade. E a cada dia que passa isso fica mais claro. Como em 2008, têm fé que a Europa vai falhar e têm fé que os USA não entrarão em default. Espero que não se repita o mesmo, com os USA, e não a Europa, a entrar em incumprimento e os downgrades a serem efectuadas após os USA entrarem em default. Por enquanto as empresas continuam a assobiar para o lado e a elebaorar os seus ratings de tanga. Até quando? Essa é a resposta que nós teremos de encontrar…
O que aconteceu a 15 de Setembro com os ratings da Lehman é o equivalente a que essa empresa avaliadora da água, tivesse “dito” que determinada água era de muito boa qualidade, mesmo benéfica para a saúde, e depois se descobrisse que a mesma continha um químico tóxico e muitas pessoas tivessem morrido por ter bebido dessa água. Mais, muitas destas pessoas só beberam aquela água dada a credibilidade passada desta empresa e a mesma só mudou a sua opinião muito depois de já ser conhecido pelo público desta situação. Ou seja, apesar de ter conhecimento que a água era tóxica continuou a manter a opinião sobre a boa qualidade dessa água.
Ao contrário do que foi argumentado estas empresas não emitem simples “opiniões”. Formulam autênticos pareceres com peso e consequências no normal funcionamento dos mercados. Como empresas que são, têm responsabilidades sobre os seus actos e pela consequência dos seus produtos. Em teoria, qualquer pessoa diria que seria o mercado a resolver este problema. Ora 2008 serviu para provar precisamente o contrário. E porquê? Parece-me que tal ficou a dever-se a dois factores:
- As empresas de rating operam num mercado de reputação: Antes da crise financeira, e precisamente por este motivo, dir-se-ia que este mercado não permitiria que as empresas falhassem pois acabariam por abrir falência de imediato. No entanto foi negligenciado o facto de que um mercado de reputação tem uma elevada barreira à entrada: a reputação. Esta demora muito tempo a ser criada, pelo que quando o mercado falha (e neste caso as três que dominam o mercado falharam todas) existe um longo período até que um concorrente consiga entrar.
- O mercado funciona em Oligopólio: A reputação é algo que demora anos a ser criado, e uma vez criada, serve como barreira à entrada de novos actores. As pessoas tendem a reforçar os laços de confiança, e neste mercado têm uma tendência a procurar uma base comum de linguagem. Alguém que está a avaliar investimentos em Tokyo, Lisboa, Nova Iorque, Dubai e São Paulo, tenderá a escolher uma empresa que avalie da mesma forma todos estes produtos, ou seja a mesma empresa. O tempo é um factor que tem um custo elevado nos investimentos. O investidor não tem tempo, nem racionalidade, para compreender todos os métodos diferentes que n empresas poderiam ter para emitir um rating. Assim, mesmo em regime de mercado livre, existirá uma tendência natural para um oligópolio aparecer e se manter.
Dito isto, o que aconteceu em 2008, não foi uma, mas duas situações em que ocorreu o factor “too big to fail”. Um foi o sector bancário, e quem suportou foi o Estado. No outro foram as empresas de rating, mas neste caso quem suportou foi o próprio mercado. Em ambos o que aconteceu é que empresas que deveriam ter saído de mercado (a.k.a. falido) continuaram a existir. A diferença é que enquanto num caso, e por causa da intervenção estatal, foram criados mecanismos de controlo, e mesmo regulação, mais eficiente (por exemplo a obrigatoriedade de uma maior capitalização dos bancos para fazerem face a perdas), no outro nada se fez, e hoje como ontem, estamos com os mesmos problemas.
O downgrade de Portugal serve como exemplo último desse problema. Não existe um único motivo para tal decisão neste momento (a não ser que a Moody’s tivesse cometido um erro na sua análise anterior, mas pelo menos esse não é um motivo apresentado no seu relatório). Os que apresentaram foram os seguintes:
«1. The growing risk that Portugal will require a second round of official financing before it can return to the private market, and the increasing possibility that private sector creditor participation will be required as a pre-condition.
2. Heightened concerns that Portugal will not be able to fully achieve the deficit reduction and debt stabilisation targets set out in its loan agreement with the European Union (EU) and International Monetary Fund (IMF) due to the formidable challenges the country is facing in reducing spending, increasing tax compliance, achieving economic growth and supporting the banking system.»
Antes demais, o ponto 1 só acontece se o ponto 2 acontecer. Assim importa saber o que aconteceu em Portugal para agora termos tido um downgrade. Este processo começou a 05 de Abril e desde essa altura:
1)Chegámos a acordo com IMF e EU para uma ajuda até 2013;
2)Passamos a ter um governo de maioria absoluta;
3)As eleições aumentaram o espaço político dos partidos que se assinaram o acordo (ou seja maior base de suporte para implementar as reformas);
4)O novo governo mostrou-se disponível para implementar medidas duras para atingir os objectivos.
5)Não existiram alterações macroeconómicas significativas às previsões durante este período.
Ou seja, seria difícil termos tido um melhor desempenho no período que medeia 05 de Abril até ao momento em que saiu este downgrade. O ponto dois é completamente infundado. Por outro lado estranho que este argumento seja utilizado a ano e meio da reentrada de Portugal no mercado. Mais parece que a Moody’s foi a uma cartomante para chegar a esta decisão.
Sem ser uma questão de fé, neste momento não existem bases para concretizar o downgrade. E a cada dia que passa isso fica mais claro. Como em 2008, têm fé que a Europa vai falhar e têm fé que os USA não entrarão em default. Espero que não se repita o mesmo, com os USA, e não a Europa, a entrar em incumprimento e os downgrades a serem efectuadas após os USA entrarem em default. Por enquanto as empresas continuam a assobiar para o lado e a elebaorar os seus ratings de tanga. Até quando? Essa é a resposta que nós teremos de encontrar…
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