Uma pequena nota que também gostaria de deixar, relativamente ao relatório da Moody's, e às justificações para o «downgrade».
A Moody's diz o seguinte:
«1. The growing risk that Portugal will require a second round of official financing before it can return to the private market, and the increasing possibility that private sector creditor participation will be required as a pre-condition.
2. Heightened concerns that Portugal will not be able to fully achieve the deficit reduction and debt stabilisation targets set out in its loan agreement with the European Union (EU) and International Monetary Fund (IMF) due to the formidable challenges the country is facing in reducing spending, increasing tax compliance, achieving economic growth and supporting the banking system.»
(Negritos meus.)
Ou seja, a Moody's diz que o risco de Portugal necessitar de uma segunda ronda de apoio financeiro internacional está a aumentar. Ao mesmo tempo, diz que as preocupações com o facto de Portugal não ser capaz de atingir completamente os objectivos estabelecidos no Memorando da Troika são mais elevadas. Mas depois não aprofunda com muito cuidado porque é que o risco é maior, e porque é que as preocupações são mais elevadas.
Não nego que haja risco, e que este seja elevado, e também não nego que haja preocupações ao nível da capacidade de Portugal de cumprir os objectivos. Mas gostava de perceber como é que esse risco e essa preocupação aumentaram recentemente, mesmo tendo em conta a eleição de uma muito confortável maioria Parlamentar favorável à aplicação do programa de reformas estruturais.
É que não é só o Governo que está comprometido com esse programa. É também o principal partido da Oposição, que estava no Governo quando o Memorando de Entendimento foi assinado. E cujos candidatos a Secretário Geral têm afirmado, com mais ou menos força, que se sentem vinculados a esse Memorando e ao programa de reformas nele vertido.
Além disso, felizmente, não temos assistido em Portugal ao que se tem assistido na Grécia, e esperemos que não venhamos a assistir. E apesar da primeira medida mais ruidosa ter sido um imposto extraordinário, o Governo também anunciou o fim das «golden shares» e a antecipação do programa de privatizações, por exemplo, e é constituído por pessoas que claramente acreditam no programa de reestruturação do Estado e da economia do Memorando, contrariamente ao Governo anterior.
Como já disse, reconheço que estamos entre a espada e a parede, e que não basta ter vontade de implementar, é preciso implementar mesmo o programa. Mas Portugal já não vai, esperemos de PEC em PEC. Tem agora um programa de reformas estruturais, e um Governo com mandato para o implementar. A instabilidade política que vinha de termos um Governo minoritário acabou, também.
Compreendo que a nossa credibilidade seja baixíssima. Compreendo também que uma previsão baseada no passado leve a que por muitas promessas que haja e que por muita boa vontade que seja demonstrada, o «outlook» se mantenha negativo, porque promessas e boa vontade já existiram no passado, sem resultados concretos. E parece que a nossa credibilidade é tão baixa, que mesmo todos os factores institucionais formais já listados de nada serviram.
É aqui que se vê a grande responsabilidade do Governo actual. O Governo actual vai ter de provar que não é como os Governos anteriores. Vai ter de provar que passa das palavras à acção, que é o que mais tem faltado em Portugal.
Como já referi, o Governo não tem qualquer benefício da dúvida.
Vai ser uma prova de fogo.
E, como o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e vários Ministros já afirmaram, o Governo não pode falhar.
P.S. O artigo sobre agências de «rating» será a Parte 2.
Este é precisamente o problema das agências de rating, funcionam com base em especulação sem uma metodologia de análise transparente.
ResponderEliminarPor outro lado o problema nem sequer é o nível baixo, mas antes o facto de considerarem que existiram alterações em Portugal, entre 5 de Abril e 5 de Maio, que provocaram o risco. Que alterações foram essas? É que ninguém consegue perceber, nem Portugal, nem a Europa, nem ninguém. Quais foram os sinais negativos?
De forma muito resumida, porque isto seria tema para outro artigo, o que aconteceu foi que nós passámos de um clima de instabilidade para um clima de maior estabilidade política, mas até agora não foram tomadas grandes medidas que conduzam ao pagamento da dívida. E o clima de estabilidade parece ser considerada uma condição necessária, mas não suficiente.
ResponderEliminarAo mesmo tempo que não se tomaram medidas, o momento do pagamento da dívida aproximou-se. Tendo em conta que se analisa o risco de crédito, e tendo em conta que poucas medidas se tomaram para tornar o pagamento mais provável, o risco de não pagamento aumentou.
Estou sempre a bater na mesma tecla, mas é por achar que é isto mesmo: A falta de reformas efectivas é o grande problema. E nós até agora, incluindo neste período, temos apenas muitas boas intenções.
Claro que isto, por si só, não explica cabalmente um corte tão feroz como aquele que Portugal recebeu. Pelo menos, eu não percebo completamente a ferocidade do corte, como digo acima.