sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Os omniscientes

Os omniscientes sabem tudo. Por uma razão ou outra, têm absoluta certeza e convicção de tudo o que dizem. Não enquadram a possibilidade de estarem errados. As suas opiniões confundem-se com factos. 

Ora, quem sou eu para pôr em causa que aquelas pessoas sabem tudo e que as opiniões delas são factos, estando absolutamente correctas? Quem sou eu para reparar que os omniscientes desta vida muitas vezes discordam entre si? 

Ninguém. Não sou ninguém para pôr em causa a omnisciência daqueles que como tal se proclamam, da Direita à Esquerda. Não sou ninguém para reparar que, da Direita à Esquerda, os omniscientes não concordam necessariamente entre si.

Claro que assistir a um debate entre omniscientes é impossível. Não há debates entre omniscientes. Há monólogos paralelos e entrecruzados. As verdades absolutas são apresentadas à vez, de forma cordata ou enquanto um interrompe o outro e vice-versa.

Por vezes, os omniscientes querem demonstrar omnisciência. Apelos à autoridade de omniscientes mais sénior é uma forma de o fazer. Outra é seleccionar factos simpáticos para o argumento que se quer defender e ignorar os factos menos simpáticos. Uma terceira é fazer-se afirmações vagas que podem ser sujeitas a todo o tipo de interpretações, e que se adaptam facilmente a várias situações. E uma quarta é a táctica do relógio estragado - dizer sempre a mesma coisa durante anos até que, de alguma forma, se possa dizer que a pessoa acertou.

Os omniscientes são muitas vezes gurus, que falam em «slogans» e frases feitas vagas, de forma a ter sempre razão e a parecer tudo saber. Há incentivos para o fazerem, porque é uma forma hábil de manipular as outras pessoas. 

A melhores defesa contra a manipulação por parte de omniscientes é o espírito crítico. É a dúvida. É a humildade intelectual. E manter presente que os seres humanos, por muito sabedores e convictos que pareçam, não podem ser omniscientes. Pelo que quem se apresente como tal, só pode estar a mentir.

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