sábado, 20 de outubro de 2012

A principal diferença entre o PS e o PSD

A principal diferença entre o PS e o PSD é que o PS está na Oposição e o PSD está no Governo. No poder, António José Seguro não podia fazer o que faz agora: dizer rigorosamente nada sobre cortes e só falar em medidas mais populares - que, por sinal, tenho visto o Governo implementar, mas pouca gente a apontar as parecenças.

O Governo e o PS querem que existam linhas de crédito para PME, querem que exista um «banco de fomento», querem um imposto sobre as transacções financeiras, querem uma união bancária e querem várias outras coisas. Só que o Governo está no Governo e tem de implementar as medidas, não pode apenas falar das medidas populares.

O PS vai subindo nas sondagens, mas indo para o Governo, era vê-lo a tornar-se rapidamente tão impopular como o PSD, porque as medidas que tomaria não se desviariam muito do que o Governo está a fazer. Também o PS seria forçado a cortar na despesa onde não gostaria, também o PS seria forçado a aumentar impostos sobre quem não quereria, também o PS seria forçado a fazer mudanças a leis laborais ou leis das rendas que não seriam particularmente populares. E também o PS andaria a privatizar.

António José Seguro, chegado a PM, teria o choque com a realidade que teve o seu grande herói, François Hollande. Subitamente, o paleio vago da Oposição já não seria popular nem suficiente. Subitamente, seria necessária uma estratégia de consolidação orçamental e o PS teria de lidar com as avaliações da troika e com todos os grupos de interesses que não querem perder com essa consolidação orçamental. Subitamente, o PS teria de tomar medidas impopulares, liderado por um alguém tão impreparado como António José Seguro.

O PS não tem programa. Aquilo que vai dizendo que gostaria não se desvia tanto de coisas que o Governo já está a fazer como o PS gostaria ou como tenta dar a entender. E portanto, o PS no Governo ou o PSD é uma questão de saber a quem entregar o poder numa altura em que o poder é um presente envenenado, porque todas as escolhas que nos está a ser apresentada a conta das escolhas que foram sendo feitas nas últimas décadas.

Juntar o PS e o PSD num Governo de Bloco Central, de Salvação Nacional, seria precedido de uma crise política desnecessária que apenas criaria mais problemas. As medidas continuariam a ser as mesmas, a contestação continuaria a ser a mesma, os planos alternativos continuariam a assentar em não contar a história toda sobre os custos que lhes estariam subjacentes. O CDS-PP continuaria a tentar passar pelos pingos da chuva. E o BE e o PCP continuariam a defender nacionalizações, este último laivos cada vez maiores de nacionalismo.

António José Seguro reúne-se com François Hollande e outros pela Europa fora regularmente, o que é bom para efeitos de propaganda, e faz sentido porque temos uma crise europeia. Mas aquilo que faria no Governo não seria muito diferente do que faz o actual.

O voto contra do PS ao Orçamento do Estado é muito simbólico e de novo muito bonito para efeitos de propaganda. Mas o facto de o fazer sem apresentar um Orçamento Sombra mostra que é também um gesto vazio de conteúdo e uma demonstração de incapacidade de apresentar soluções verdadeiramente diferentes.

1 comentário:

  1. Há muito de verdadeiro no que aqui está escrito, o que torna o chumbo do PEC4 pela direita cada vez mais indesculpável. Os juros dispararam e a situação de Portugal agravou-se significativamente quando à crise financeira se juntou a crise política. A única boa razão para chumbar o PEC4 foi apresentada pelos partidos à esquerda do PS: rejeitar uma estratégia baseada no pagamento integral da dívida para ao invés tentar renegociar o seu pagamento. Também nessa altura o PSD foi convidado a apresentar alternativas ao PEC4, e aquilo que disseram foi que não estando no Governo não tinham essa obrigação. Mas as consequências de um voto contra o PEC4 foram completamente diferentes das consequências de um voto contra um orçamento que vai passar à mesma e, para quem acredita que a dívida deveria ser integralmente paga, muito mais catastróficas para o país.

    Agora Pedro Passos Coelho, que não hesitou em colocar a sua ambição pelo poder à frente do interesse do país durante a votação do PEC4 (que chumbou porque «chega de sacrifícios!»), prova o seu próprio veneno pelas mãos de António Seguro, com quem partilha um percurso de vida tão semelhante.

    E nisto tudo, continua sem surgir o tal «orçamento de base zero», continuam sem ser sequer mencionadas as propostas do «Relatório Nacional de Integridade», continua tudo na mesma, quem sabe até à ruptura.
    Curiosamente o livro que me ofereceste tem uma explicação interessante para esse desfecho.

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