Para começar a reduzir a quantidade de free-riders não me parece nada má ideia começar pelos literais...
As mudanças, relativamente pesadas (ou por outra, relativamente leves) que tiveram lugar nos preços finais e na subsidiarização dos transportes públicos, que se acabaram por propalar como um “caso”, representam quanto a mim um passo importante na caminhada que trilhamos.
Temos discutido com particular fervor, claro, o papel que o megacéfalo Estadão que se criou terá tido na geração das deficiências estruturais que a nossa economia evidencia. Porém, independentemente de sermos menos partidários deste - como seremos todos neste espaço - ou mais, é inegável que a forma como, desde o princípio da 3ª República, essa “estatização” foi levada a cabo está na génese de muitas das ineficiências, cujos custos reais nunca conheceremos realmente.
Ora, uma das manifestações disto passa exactamente por uma proporção manifestamente elevada de free-riders. Basicamente, (please correct me if I’m wrong) o conceito de free-rider, transversal à economia e à sociologia, figura relevante no estudo da chamada collective action, é particularmente importante na análise de mecanismos de provisão de bens públicos: quando um grupo relativamente grande se combina para assegurar em conjunto a provisão de um bem comum, torna-se racional do, chamemos-lhe assim, ponto de vista estritamente individual de cada um dos elementos do grupo, deixar de contribuir para o “bolo”. Isto torna expectável o aparecimento dos free-riders, os elementos que usufruem de uma parcela ou porção do bem, sem terem contribuído para a provisão do mesmo.
Os utilizadores dos nossos transportes públicos (pelo menos, os públicos públicos), constituem um exemplo bastante concreto deste conceito. Por razões que poderão ir desde a tal criação e subsequente gestão atabalhoada do welfare state à portuguesa, bem como de pressões habituais das intersindicais, associações de utilizadores, et cetera, o facto é que a sustentabilidade da larga maioria dos nossos sistemas de transportes pertence já quase ao domínio do mitológico, uma vez que o gap entre, digamos, a parte do seu financiamento de carácter redistributivo (assegurada pelo Estado lui-même) e da respeitante às receitas operacionais (pelos utilizadores-pagadores), vem crescendo, numa proporção só superada pelo galope do volume da dívida dos operadores.
Ou seja, para além de serem sermos free-riders literalmente, somo-lo também numa acepção bastante livre do termo económico, no sentido em que usufruímos de um bem cuja provisão nos organizámos, juntamente com o resto dos 10.5m, para garantir, sem no entanto participar nisto numa medida ajustada ao facto de sermos os seus utilizadores efectivos, ao contrário da maioria daqueles que contribuem. Ao andar de autocarro pagando uma "lembrancinha" estamos a alimentar um pequeno redemoinho por onde, como sociedade, perder "potencial económico". Isto assume contornos mais graves ainda visto que uma parte destes últimos estaria disposto a pagar bem mais do que o preço final de um L123 para ter um transporte público decente a menos de umas dezenas de quilómetros de distância...
Formamos um denso plâncton em movimento pendular: pelo menos, de acordo com a opinião “da rua”, existe algo cuja obrigação moral e quiçá legal é a de financiar este caldo, (é que estes aumentos são “um autêntico roubo aos nossos bolsos”). Devem estar a referir-se ao Sol. Só pode.